Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniela Nogueira

Participei, na última sexta-feira, 21/11, de um debate promovido por alunos de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor). Dentre os assuntos a serem discutidos, um fazia referência ao fato de o jornalista declarar ou não seu voto – em tempos de eleição, principalmente. O evento era parte da oitava edição do Observatório “E eu com isso?” e tinha como tema “O jornalista na urna: meu voto é secreto?”.

Também participaram como debatedores a jornalista Adísia Sá, professora, ombudsman emérita do O POVO e presidente da Associação Cearense de Imprensa (ACI); Artur Pires, editor e idealizador da Revista Berro; o jornalista Hamilton Nogueira, da TV União; e o jornalista, professor e pesquisador de comunicação e mídias sociais Alberto Perdigão. Os estudantes foram coordenados pela professora Sandra Helena de Souza.

Prós e contras

A discussão principal, acerca do posicionamento do jornalista em textos de cunho político, especialmente em tempos de campanha eleitoral, expôs vários argumentos. Quem acha que o jornalista não deve declarar seu voto alega a tentativa de isenção jornalística e a credibilidade do veículo. Equilíbrio é a palavra no universo do ideal de imparcialidade.

No O POVO, os jornalistas são orientados a não manifestarem suas posições ideológicas, o que não significa não ter opinião. É claro que todos nós teremos nosso voto e, portanto, uma ideologia a ser seguida. Isso só não pode ser confundido com militância dentro do jornal.

Aqueles que acham que o jornalista deve, sim, assumir seu voto e sua posição político-partidária defendem que isso seria mais justo com o leitor, que poderia, enfim, saber com que ponto de vista está lidando. Munido dessa informação, ele teria a opção de seguir, ou não, consumindo aquele produto.

E na sua opinião, leitor, qual seria a melhor opção para você e para o jornalismo?

As notícias dos famosos II

Sobre o comentário “As notícias dos famosos” publicado nesta coluna, no domingo passado, recebi mensagem do jornalista Gabriel Maia, recém-formado pela Fa7. Em seu trabalho de fim de curso, defendido em junho, intitulado “Notícia de Instagram: quando a vida íntima vira fonte de informação”, o jornalista fez uma análise (um estudo de caso) sobre a editoria “Divirta-se” do portal O POVO online.

De acordo com a avaliação de Gabriel, “esse tipo de notícia vem ganhando muito espaço dentro desse jornalismo segmentado para o mundo das celebridades”, o que, para ele, é importante, já que “deixa o cotidiano dos portais com um pouco mais de leveza e tem um extenso número de leitores”. Na análise monográfica, orientada pela professora Naiana Rodrigues, o jornalista percebeu “que o Instagram vem sendo uma nova fonte dentro desse tipo de notícia, feita a partir de fotos e legendas publicadas por famosos em seus perfis, e que os jornalistas seguem preceitos básicos, usando valores-notícias na construção desse tipo de conteúdo”.

Valor-notícia

Durante o trabalho, Gabriel avaliou que, para um fato publicado por um artista famoso no Instagram virar matéria, é preciso que ele se encaixe em um valor-notícia específico. “Na minha análise, segui o preceito de que o valor-notícia do Instagram se deu pela repetitividade de alguns fatos, levando em conta os conceitos de Mauro Wolf. Acho que o jornalismo dá lugar a fofoca quando faz uso de fatos que extrapolam, muitas vezes, a barreira da intimidade”, comentou.

É interessante que esse processo e tudo o que resulta dele, como a definição de novos critérios de noticiabilidade, estejam sendo constantemente estudados no âmbito acadêmico. E o mais importante: que não fiquem apenas lá. Sou completamente a favor da aproximação entre o que fazemos no mercado e o que estudamos nas faculdades. Com as novas mídias, isso ficou mais necessário. É assim, questionando nosso modo de produção e discutindo sobre o que fazemos, que podemos seguir na busca incessante pelo bom jornalismo na prática.

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Daniela Nogueiraé ombudsman do jornalO Povo