São usados equivocadamente na mídia brasileira:
>> “Atear” (em “atear fogo”). Ninguém fala isso numa conversação, em todo o território nacional, há pelo menos 70 anos. Mas escreve-se em jornais. É um clichê. Que tal substituir pelo verbo “pôr”?
>> “Copiar” (por “mandar cópia”, “incluir entre os destinatários”). Que 99% dos internautas cometam esse anglicismo tosco, paciência. Mas que o faça uma revista com a qualidade da piauí, não dá para entender (janeiro de 2014, “Onde está Borges?”, pág. 64: “Laura Rosato, responsável pela coleção Borges, copiada no e-mail, confirmou…”). Poder-se-ia ter escrito, por exemplo, “Laura Rosato, que recebeu cópia do e-mail” (ou “da mensagem”). Em lugar de “copio você” etc., não custa escrever “mando-lhe cópia”, “você recebe cópia”, [a mensagem] “vai com cópia para você”. Nenhum dicionário, mesmo os mais permissivos (o falecido Evandro Carlos de Andrade, sabe-se lá por que razão, considerava o Aurélio, ainda nas primeiras edições, em papel, “uma puta”; pelo menos foi o que disse ao autor destas linhas para refutar abonação do dicionário que lhe era desfavorável numa polêmica gramatical), nenhum dicionário, aparentemente, teve até aqui o desplante de inventar a acepção “mandar cópia” para o verbo “copiar”. O Houaiss online dá a acepção “transcrever (trecho selecionado de texto, uma imagem, ou um objeto do documento ativo) para a área de transferência, sem alterar o conteúdo do documento ativo; criar nova instância de um arquivo digital”. Usar “copiar” como tradução de “mandar uma cópia”, ou “incluir entre os destinatários”, é seguir os apedeutas informáticos que “traduzem” de modo selvagem a terminologia criada nos Estados Unidos. Ademais, bons dicionários da língua inglesa (Webster, Oxford) não registram tal acepção para o verbo “copy”.
>> “Estavam em três”. Se alguém tivesse dúvida quanto à influência do italiano no falar paulista, essa expressão, inexistente em português, “tradução” (transposição?) literal do italiano (“Eravamo in tre”, no caso), ajudaria a eliminá-la. “Ah, mas isso só se fala, ninguém escreve.” Otimismo seu, leitor complacente: “Estavam em 12 pessoas” (Folha de S. Paulo, “Mulher atingida por raio em Guarujá pedia que filho saísse do mar”, 15/1/2013).
>> “Quando então”. Para que o “então”? Ver Folha de S. Paulo, 5/2/2013, “’Monstro’ propôs acerto ao ser preso”: “Cumpriu pena em regime fechado durante seis anos, quando então conseguiu o direito a cumprir o restante da pena em regime semiaberto”. Nem o “quando” cabe na frase, porque o sentenciado não conseguiu o direito de passar para o regime semiaberto “durante seis anos”, mas ao cabo deles. Teria sido o caso de usar “então” (“assim”): “Cumpriu pena em regime fechado durante seis anos. Então (assim), conseguiu o direito”… etc. Melhor teria sido suprimir o “quando” e o “então”. “Cumpriu pena em regime fechado durante seis anos. Conseguiu o direito de cumprir o restante da pena em regime semiaberto” etc.
>> “Visivelmente” (nervoso, irritado, abatido etc.). O advérbio já deveria ter saído do baú de velharias da imprensa. O adjetivo basta. Se o repórter, que narra, percebeu, é porque o estado de espírito era “visível”. Exemplo na Folha de S. Paulo de 17/1 (“Moradores só aceitam ir para hotel se levarem cachorro”): “‘Já pensou se fosse eu?’”, disse, visivelmente irritado, enquanto esperava…”.
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