A televisão mundial está de luto. Na sexta-feira (28/11) faleceu aos 85 anos, na cidade de Cancún, no México, o humorista Roberto Gómez Bolaños. Conhecido em quase todo planeta por ser o autor e protagonista dos seriados Chaves e Chapolin, Bolaños foi um dos maiores nomes do humor mundial em todos os tempos, estando no mesmo patamar de ícones como Charles Chaplin e de seu compatriota Cantinflas.
Assim que a notícia foi divulgada, várias personalidades manifestaram condolências, canais de televisão interromperam suas programações e as redes sociais foram tomadas por inúmeras postagens em homenagem ao eterno Chespirito (“pequeno Shakespeare”, apelido que Bolaños, criador de vários personagens, recebeu em referência ao famoso dramaturgo britânico). Chaves e Chapolin estrearam na tevê mexicana no início dos anos 1970 e foram exportados para mais de cem países, sendo líderes de audiência em todos os lugares onde foram exibidos, façanha registrada no Guinness Book.
No Brasil, os seriados são transmitidos pelo SBT há três décadas. Ao contrário dos enlatados estadunidenses, que são praticamente impostos aos telespectadores através de campanhas publicitárias com grande poder de persuasão, Chaves e Chapolin caíram no gosto popular “sem querer querendo”, de forma espontânea e natural.
Uma perda irreparável
Mais do que um simples programa de entretenimento, Chaves também tem significados políticos e sociológicos. Assim como Carlitos (personagem de Chaplin) retratava as angustias do proletariado na época da segunda Revolução Industrial, a vila de Chaves representa os antagonismos sociais próprios da realidade latino-americana. As disparidades econômicas estão presentes na amizade entre o menino rico e mimado Kiko com o órfão e pobre Chaves; as relações conflituosas entre Seu Barriga e Seu Madruga revelam as contradições envolvendo proprietários e despossuídos e a personagem Dona Florinda simboliza o indivíduo que decai socialmente, mas não aceita sua nova condição (para ela, é insuportável ter que conviver com a “gentalha”).
Por outro lado, Chapolin Colorado é o grande super-herói latino-americano. Diferentemente de seus congêneres estadunidenses, o personagem criado por Bolaños é fraco, medroso, desastrado e mulherengo, mas é carismático e, assim como nós, meros mortais, é humano, demasiadamente humano. Daí a grande identificação do público.
Segundo alguns críticos, Chaves e Chapolin são seriados simples e previsíveis, em que todos os programas têm basicamente os mesmos enredos. Entretanto, o grande mérito de Bolaños é que você pode assistir sua obra inúmeras vezes, saber o que vai acontecer, e mesmo assim dar risadas em todas as oportunidades. Parafraseando uma famosa citação sobre as produções que são consideradas simples, se fazer rir fosse fácil, existiriam mais atrações como Chaves e Chapolin, mas, no campo humorístico, não há nada comparável às geniais criações de Bolaños. Numa época em que os programas de humor recorrem a práticas esdrúxulas, como expor pessoas ao ridículo ou disseminar preconceitos mesquinhos contra minorias, é sempre bom relembrar o legado de mestres como Roberto Gómez Bolaños. Sem dúvida, uma perda irreparável.
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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG