Os documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA) vazados por Edward Snowden em 2013 revelaram um vasto programa de vigilância montado pelo governo americano, mas também respingaram em países como Austrália e Nova Zelândia. As duas únicas grandes instalações da NSA no hemisfério sul estão lá. Junto com os EUA, o Reino Unido e o Canadá, Austrália e Nova Zelândia formam uma parceria de compartilhamento de inteligência conhecida como “Five Eyes”, ou “Cinco Olhos”.
Talvez por isso, recentes ações que prejudicam o trabalho da imprensa nestes dois países tenham tido pouca repercussão internacional. A aprovação de uma lei mais rígida contra terrorismo na Austrália e uma exagerada operação de busca e apreensão na Nova Zelândia são ações que, segundo o jornalista e escritor Raymond Bonner em artigo no New York Times, costumam ser explicadas “como o resultado de um equilíbrio sensível entre segurança nacional e as liberdades civis”. O que está ficando claro nestes casos, diz ele, “é que o auto-interesse político – que não serve a ninguém a não ser ao poder – é um fator tão importante quanto os outros”.
Problema diplomático
Em 2013, o jornal The Guardian Australia e a rede pública de TV e rádio ABC reportaram, com base em informações divulgadas por Snowden, que a inteligência australiana havia grampeado os telefones do então presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, e de membros de seu gabinete. O episódio não foi apenas embaraçoso para o governo australiano: causou um sério problema diplomático. O embaixador da Indonésia no país foi chamado de volta e só retornou para a Austrália seis meses depois.
Recentemente, a Austrália aprovou uma emenda na lei de segurança doméstica que permite que jornalistas e informantes que publiquem informações sobre “operações especiais de inteligência” sejam sentenciados a mais de 10 anos de prisão.
Política suja
Em uma conferência em setembro, da qual participou por link de vídeo, o ex-analista da NSA revelou que o governo neozelandês trabalhava em conjunto com a NSA em uma vasta rede de vigilância doméstica. O primeiro-ministro neozelandês chegou a negar a alegação, mas acabou admitindo que ela “pode estar correta” depois que Snowden divulgou documentos que a comprovariam.
Poucas semanas depois, policiais fizeram uma busca na casa do jornalista investigativo Nicky Hager, especializado em questões de segurança nacional. Hager trabalha em conjunto com o jornalista Glenn Greenwald na divulgação dos documentos vazados por Snowden. A operação policial durou 10 horas; foram apreendidos computadores, telefones e documentos. Em seu livro mais recente, Dirty Politics (Política Suja), o jornalista afirma que oficiais do partido de centro direita do primeiro-ministro forneceram documentos sobre políticos da oposição para um blogueiro da direita. As revelações levaram o ministro da Justiça a renunciar ao cargo.