Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Austrália e Nova Zelândia ampliam pressão sobre a imprensa

Os documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA) vazados por Edward Snowden em 2013 revelaram um vasto programa de vigilância montado pelo governo americano, mas também respingaram em países como Austrália e Nova Zelândia. As duas únicas grandes instalações da NSA no hemisfério sul estão lá. Junto com os EUA, o Reino Unido e o Canadá, Austrália e Nova Zelândia formam uma parceria de compartilhamento de inteligência conhecida como “Five Eyes”, ou “Cinco Olhos”.

Talvez por isso, recentes ações que prejudicam o trabalho da imprensa nestes dois países tenham tido pouca repercussão internacional. A aprovação de uma lei mais rígida contra terrorismo na Austrália e uma exagerada operação de busca e apreensão na Nova Zelândia são ações que, segundo o jornalista e escritor Raymond Bonner em artigo no New York Times, costumam ser explicadas “como o resultado de um equilíbrio sensível entre segurança nacional e as liberdades civis”. O que está ficando claro nestes casos, diz ele, “é que o auto-interesse político – que não serve a ninguém a não ser ao poder – é um fator tão importante quanto os outros”.

Problema diplomático

Em 2013, o jornal The Guardian Australia e a rede pública de TV e rádio ABC reportaram, com base em informações divulgadas por Snowden, que a inteligência australiana havia grampeado os telefones do então presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, e de membros de seu gabinete. O episódio não foi apenas embaraçoso para o governo australiano: causou um sério problema diplomático. O embaixador da Indonésia no país foi chamado de volta e só retornou para a Austrália seis meses depois.

Recentemente, a Austrália aprovou uma emenda na lei de segurança doméstica que permite que jornalistas e informantes que publiquem informações sobre “operações especiais de inteligência” sejam sentenciados a mais de 10 anos de prisão.

Política suja

Em uma conferência em setembro, da qual participou por link de vídeo, o ex-analista da NSA revelou que o governo neozelandês trabalhava em conjunto com a NSA em uma vasta rede de vigilância doméstica. O primeiro-ministro neozelandês chegou a negar a alegação, mas acabou admitindo que ela “pode estar correta” depois que Snowden divulgou documentos que a comprovariam.

Poucas semanas depois, policiais fizeram uma busca na casa do jornalista investigativo Nicky Hager, especializado em questões de segurança nacional. Hager trabalha em conjunto com o jornalista Glenn Greenwald na divulgação dos documentos vazados por Snowden. A operação policial durou 10 horas; foram apreendidos computadores, telefones e documentos. Em seu livro mais recente, Dirty Politics (Política Suja), o jornalista afirma que oficiais do partido de centro direita do primeiro-ministro forneceram documentos sobre políticos da oposição para um blogueiro da direita. As revelações levaram o ministro da Justiça a renunciar ao cargo.