Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniela Nogueira

Minimizar a quantidade dos erros de português no jornal parece uma tarefa difícil. A cada dia, recebo ligações de leitores e email com listagem de erros apontados. Eles aparecem sob diversos tipos – em concordância, pontuação e ortografia, principalmente – no jornal impresso e no online. Ressalte-se: ter o domínio da língua portuguesa não dá a chancela de que alguém será um bom jornalista. Mas qualifica o profissional e o trabalho com um conhecimento que é basilar.

Já apontei o problema da má escrita nesta coluna e volto a fazê-lo porque, mesmo grave, ele se mantém. Dentre as causas para tamanha dificuldade, parece-me mais viável citar uma deficiência no ensino regular – uma falha que se arrastou por toda a educação básica, alcançou o ensino superior e permaneceu na vida profissional. Faculdade de Jornalismo nenhuma dá aula de português.

Um dos leitores mais atentos a esse tipo de erro é o Ireleno Benevides, professor de Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e poeta. Não foram poucas as vezes que ouvi dele, neste ano, uma série de erros na mesma edição. “Jornalista é o profissional da notícia, que é veiculada pela palavra. Por isso, tenho um incômodo muito grande quando vejo o mau tratamento do português. Os erros estão nas notícias, mas se repetem com os colunistas. É um problema antigo”, atesta Ireleno, leitor do O POVO há alguns anos.

Revisor? Que revisor?

O leitor diz acreditar que o problema com a língua portuguesa não é restrito aos jornalistas. Mas, com eles, fica mais exposto pela natureza da profissão. E faz uma provocação: “Tenho medo de que a coisa tende a aumentar, pela minha experiência como professor. A instituição tem que fazer algo. Por que não há um revisor? Todo órgão que trabalha com a palavra escrita e publicada tem que ter alguém que cuide dessa palavra”.

A figura do revisor resiste em alguns jornais ainda, mas o cargo foi extinto na maioria dos grandes veículos. Acho pouco provável, pelos frequentes enxugamentos na folha promovidos pelas empresas, que ele retorne aos poucos – o que é lamentável. Nem sempre o jornalista tem conhecimento das regras. O repórter erra; o editor, pela pressa, pela grande quantidade de páginas com que lida ou por desconhecimento também, deixa o erro passar; e o erro se mantém – e se repete edições adiante.

O que diz a Redação

A diretora-executiva da Redação, Ana Naddaf, comenta sobre o que tem sido feito para atenuar a questão: “É permanente o esforço de reconhecer e diminuir os erros. Temos uma listagem para monitoramento e uma cobrança constante pela publicação da correção dos erros cometidos. Aliás, a seção ‘Erramos’ é histórica e O POVO faz questão de preservar. Não é uma ação preventiva, mas é uma seção específica para correção dos erros. Ao assumi-los publicamente, além de ficarmos atentos para não repeti-los, reforçamos o compromisso com a qualidade e com a credibilidade do nosso jornalismo.

Há ainda outras ações, como as críticas diárias da ombudsman, que circulam internamente, e as avaliações também diárias, feitas por editores e diretoria, que colocam os erros cometidos em debate. Estamos com uma nova iniciativa, que é uma série de palestras que discutem o produto jornalístico que fazemos.

Estamos novamente avaliando o processo de mensuração dos erros, de prevenção e de correção. Ter como meta zerar os erros de uma edição é tarefa árdua, diria quase impossível, tendo em vista a produção intensa e extensa que realizamos, tanto no impresso como no online. Aliás, li outro dia que o erro faz parte da busca pela verdade. No entanto, é preciso reforçar que há uma preocupação constante com o volume de erros cometidos e nossa meta é cometê-los cada vez menos.”

Meta do erro zero

Também não acredito na meta do erro zero. Uma edição feita a tantas mãos não terá essa garantia. Isso é um ideal, dos vários, do bom jornalismo. Mas algo tem de ser feito, talvez o estabelecimento de alguma meta mais real ou a reciclagem dos profissionais. Não dá mais para deixar de discutir outros assuntos, também importantes, sobre o fazer jornalístico para expor erros de português no jornal.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo