Friday, 08 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Novos tempos e velho jornalismo

Desde o nascimento deste site do Observatório da Imprensa, uma advertência se tornou quase rotineira: as mudanças previstas – e que acabaram ocorrendo – na sociedade brasileira exigiriam o aparecimento de um novo tipo de jornalismo. O que, infelizmente não aconteceu. E a sociedade, hoje, é órfã do que talvez fosse sua arma mais poderosa com a prática do jornalismo independente, o incentivo ao fortalecimento das instituições democráticas.

Parece lugar comum falar em jornalismo independente, após vencidas as barreiras da censura e autocensura impostas pela ditadura de 1964. Mas nunca é demais citar a crise do conhecimento – da história, da sociologia, antropologia e da economia – que alvejou o jornalismo brasileiro desde a Constituição de 1988.

Seria um exagero, um despropósito, esperar que dessas novas gerações de profissionais de mídia no Brasil surgissem um Euclides Cunha ou um Wilson Martins. Como mais exagerado ainda seria esperar que entre as gerações de escritores latino-americanos aparecesse mais de um Gabriel García Márquez ou um Miguel Angel Asturias.

Direitos e deveres da sociedade

Isso não impede que aguardemos a surpresa. Instrumentos políticos, estéticos, paisagísticos, modulares e vitais não faltaram para que essas performances se configurassem. Nos poucos anos de experimentação das liberdades democráticas já deu para perceber o manancial de situações, circunstâncias casuais e provocadas que enriquecem nosso cotidiano – situações sociais essas que já abundavam o país, embora a censura e a autocensura obstruíssem suas expressões.

O jornalismo propositivo é mais do que nunca o que deveria estar na ordem do dia da mídia brasileira hoje. Os defensores da mídia-debatedora-questionadora dirão: a proposição cabe ao parlamento. Sim, mas isso não impede que ela seja capaz de encaminhar suas proposições ao parlamento como um dos principais canais institucionais da democracia. Sua legitimidade se dá pela abrangência do seu público. A ação democrática da mídia defende os direitos e deveres da sociedade sem anular sua parceria com ela, ajudando-a a discernir entre os melhores caminhos a seguir.

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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor