Os escândalos da Petrobras, o relatório da Comissão da Verdade, a ciclofaixa em São Paulo e até a falta de decoro parlamentar de Jair Bolsonaro. Escolha qualquer tema do Brasil de hoje e tente se informar apenas pelas redes sociais.
Você, provavelmente, ficará perdido. Vai encontrar argumentos e “notícias” publicadas sobre o mesmo assunto que são, no mínimo, antagônicos e expõem dois pontos sobre as redes sociais que merecem uma reflexão: a qualidade da informação compartilhada e a própria natureza da ferramenta.
Quanto à sua natureza, ela é anárquica por definição, trata-se de uma conversa virtual. As redes sociais nada mais são do que espelhos dos gostos e opiniões de cada usuário e de seus amigos.
Na eleição, no entanto, a linguagem violenta e as vendetas pessoais tomaram conta das redes e embaçaram o espelho de muita gente. A luta livre virtual fomentou inimizades e rompeu antigas amizades.
Quanto à qualidade da informação que é compartilhada ou publicada nas redes sociais, o buraco é mais embaixo. Opinar é fácil, criar conteúdo original é mais complicado. O usuário que se informa apenas pelas páginas das redes sociais está sujeito a todo tipo de fonte de informação. A chance de um conteúdo falso, criado para destruir reputações, ser espalhado é no que apostam os seus autores.
Vale destacar ainda o papel dos “polemistas profissionais” nas rede. À direita e à esquerda, julgam-se iluminados e com a missão de interpretar para os ingênuos as notícias publicadas na mídia. Raramente produzem conteúdo original. Contraditórios pela prática, não pautam a imprensa, são pautados por ela. O pecado mora ao lado e a desinformação também.
Olhar vigilante
O protagonismo da mídia digital não está em discussão. Mesmo que ainda se busque modelos de monetização, essa mídia caminha a passos largos e produz conteúdos relevantes em diferentes formatos, narrativas e ambições.
O debate é sobre as publicações na internet que geram a cizânia e a potencializam nas redes sociais sem construir credibilidade. Elas prestam um desserviço aos novos desafios que a informação digital impõe e contaminam o conteúdo que é compartilhado.
Os brasileiros, recordistas de tempo de acesso à internet, adotaram com paixão as redes sociais. Entre as ferramentas mais utilizadas no país, o Facebook lidera com 64,2% o bolo da audiência segundo dados de novembro da pesquisa Hitwise, realizada pela Serasa Experian.
O Twitter, principal instrumento de divulgação de notícias em primeira mão, tem apenas 1,36% da participação, mas uma grande importância no ecossistema dos influenciadores.
É nesse contexto que se impõe um cuidado quanto ao conteúdo “noticioso” publicado e compartilhado pelos usuários e nos comentários pendurados a eles. As redes sociais precisam de um ombudsman?
Claro que não. Uma rede social não é uma publicação linear que precise de um profissional que a vigie. É uma ferramenta. São os próprios usuários que devem exercer esse papel regulador.
O mesmo olhar crítico e vigilante que hoje os usuários têm com as mídias tradicionais –que é muito positivo– deve ser exercido também nas redes sociais. Ganham a sociedade, a democracia, o jornalismo e a liberdade de expressão.
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Beto Gerosa, 51, jornalista, é autor do Blog do Vinho (vinho.ig.com.br). Foi editor-executivo de Veja.com e publisher do iG