Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O momento da verdade: se a moda pega…

A Era da Informação tem sido um blefe. Impera a desinformação e a mentira. Mas a Era da Verdade que se prenuncia de maneira tão candente neste final de ano pode mudar drasticamente a humanidade e dar um novo sentido ao que se diz e ao que faz.

O restabelecimento das relações diplomáticas entre a superpotência chamada Estados Unidos da América e a minúscula Cuba não é um episódio corriqueiro nos anais da história política, nem pode ser classificado como golpe de marketing. Quando o presidente cubano Raúl Castro (citando várias vezes o irmão, Fidel) oferece respeito e reconhecimento ao homólogo norte-americano depois de 53 anos de confrontos e rancores, algo efetivamente mudou. E quando, na mesma hora, o presidente Barack Obama reconhece que o doloroso isolamento imposto a Cuba foi incapaz de dirimir tantas e tão penosas divergências, torna-se possível imaginar que o desnorteado rebanho da humanidade seja empurrado para um novo patamar em matéria semântica, retórica e, principalmente, moral.

Como se não bastasse a reviravolta na cena internacional, seis dias depois o papa Francisco (um dos artífices do degelo cubano-americano), no encontro natalino com a Cúria romana, fez o mais candente ataque aos descaminhos da Santa Sé desde a publicação, em 1517, das 95 teses propostas por Martinho Lutero que deram início a Reforma Protestante. Nas linhas introdutórias Lutero também se referia ao “amor e empenho pela verdade”.

Às claras

Ao mesmo tempo em que apelava aos fiéis para viver um Natal verdadeiramente cristão, o pontífice cobrou dos cardeais um severo exame de consciência diante do que chamou “Alzheimer espiritual” – uma amnésia que distancia a hierarquia católica dos valores morais defendidos pela Igreja desde o momento em que o Nazareno expulsou os vendilhões do Templo de Jerusalém.

Ao lado desta enfermidade elementar, o papa Francisco arrolou outras doenças, entre as quais:

>> Privação de autocrítica, arrogância de sentir-se imortal e insubstituível;

>> Excesso de atividades não-espirituais;

>> Petrificação mental;

>> Excessiva atividade burocrática;

>> Terrorismo de falatório baseado em fofocas e intrigas;

>> Divinização dos chefes através do carreirismo e oportunismo;

>> Indiferença para com os demais;

>> Falso narcisismo;

>> Rivalidades pela glória;

>> Cara fúnebre contrariando o princípio de que o religioso deve ser amável, sereno, alegre e entusiasmado;

>> Acúmulo de bens materiais, exibicionismo, reclusão em círculos mundanos;

>> Esquizofrenia existencial.

Francisco encerrou sua inspirada homilia com uma metáfora popular proferida em tom de advertência: cuidado, sacerdotes são como aviões, são notícia apenas quando caem.

Neste clima universal de conscientização e sinceridade – incompatível com os manuais de autoajuda – lampeja uma constatação. Resgatada dos subentendidos e eufemismos que atrofiam a sua integridade, a verdade, enfim, saiu da clandestinidade.

 

E, no Brasil, devagar com o andor

O depoimento da ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca à repórter Glória Maria, da Rede Globo (Fantástico, 21/12), foi respondido 24 horas depois pela presidente da Petrobras, Graça Foster, no Jornal Nacional (ver aqui).

Ao alegar mais uma vez que a subordinada foi insuficientemente explícita ou enfática nos e-mails e encontros pessoais, Graça Foster esqueceu que a “empregada” de uma empresa não pode denunciar atos de corrupção sem a devida comprovação. Mas tem a obrigação de chamar a atenção dos superiores para disfunções, equívocos, imperícias, cochilos e desacertos que porventura detectou. Uma companhia que preza a eficácia ou a transparência tem a obrigação de levar adiante os indícios apontados por uma gerente.

Nesta acareação televisiva, a presidente Graça Foster não conseguiu jogar o jogo da verdade. Certamente o fará.