Há um tema recorrente em tecnologia que marcou 2014: a fragilidade da vida privada na era digital. Esse encontro aparece no suicídio de duas adolescentes, uma no sul, outra no nordeste, após o vazamento de vídeos sexuais. Aparece novamente na maciça publicação de fotografias e filmes íntimos de atrizes de Hollywood. E está, evidentemente, ali na obtenção por hackers de dados bancários, de saúde, além de e-mails pessoais de todos os funcionários da Sony Pictures.
A gente esquece com facilidade: a internet é jovem. Muito jovem. Smartphones com câmeras ligados constantemente às redes sociais não existiam às centenas de milhões cinco anos atrás. Daqui a outros cinco eles terão, além de nossas imagens, também nossos dados bancários e de saúde. São frágeis.
Escrevendo anonimamente para o site da Forbes, um funcionário da Sony contou como foi viver lá dentro nas últimas semanas. No primeiro momento, o hack parecia um problema técnico sério mas sem grandes consequências. Conforme a imprensa foi anunciando a dimensão do estrago, porém, teve início uma corrida. Todos tiveram de mudar seus cartões de crédito, alterar senhas de sites.
No caso da Sony, aqueles executivos do médio escalão tiveram uma dura aula sobre segurança virtual. Descobriram a existência de programas que gerenciam senhas, da importância de elas serem complexas. Aprenderam, também, o quanto dados particulares, vazados, podem terminar em problemas sérios.
Não é apenas que a internet é jovem. A tecnologia avança num ritmo muito mais forte do que nossa capacidade de se adaptar. Empresas como Google e Facebook aprenderam, a duras penas, que o público se adapta devagar. Tiveram inúmeros problemas de comunicação. Produzem, ambas, ferramentas excepcionais que enriquecem nossas vidas. Mas que também ameaçam.
Educação digital
É injusto citar, na lista, apenas Google e Facebook. Ou a Amazon. Estas são as gigantes e as mais aguerridas no objetivo de mudar como vivemos. Mas ponha-se na lista as inúmeras pequenas empresas que lançam aplicativos que utilizamos. E ponha também os bancos , seguros de saúde, as telefônicas e até as empresas nas quais trabalhamos. Quais estão bem equipadas para evitar invasões só saberemos quando ocorrer.
Vazamentos de informação pessoal vão ficar mais comuns. E é só quando aí que muitos de nós, finalmente, entenderemos o custo da vida digital. O objetivo não é um libelo ludita. É outro: de conscientização.
O maior problema da tecnologia não são seus riscos, é nossa ingenuidade. Risco é coisa simples de lidar: você o compreende, percebe as consequências, avalia o esforço de dirimir o dano e toma uma decisão sobre correr ou não. É este cálculo que falta em nosso cotidiano. E parte do processo inclui educação digital.
É claro que simplifica a vida ter uma senha simples que se repete. Dá trabalho entender todos os controles do celular e optar ou não por fazer becapes. Bancos não têm insistido em biometria e tolkens à toa. E o vazamento dos vídeos e fotos de celebridades ocorreram porque muita gente fazia becape automaticamente sem desconfiar que as fotos estavam sendo armazenadas nos servidores de Apple e Google.
Educação digital parte por gastar o tempo necessário para aprender a usar direito. Devia ser ensinado nas escolas. Não basta recorrer ao filho adolescente.
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Pedro Doria, do Globo