Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniela Nogueira

A cada dois anos, o modo de fazer notícias na imprensa se repete. A espera pela mudança do secretariado, seja municipal, seja estadual, é cercada por muita especulação. E aqui especular está no sentido de pesquisar, examinar, verificar. Mas sem conclusão nenhuma. A especulação no jornalismo é o oposto da precisão. As notícias dos últimos dias dizem muito sobre isso. Até o anúncio oficial dos nomes dos secretários estaduais da nova gestão, haverá muita gente cotada para os cargos – dizem os jornais.

Colunas e matérias criam notícias diferentes para o mesmo assunto, tamanha é a ansiedade na espera pelos novos nomes. Por certo, as fontes são diferentes e cada uma delas tem seus próprios interesses. Às vezes, o nome “cotado” para o cargo pode até ser realmente o novo secretário. Mas há casos em que um nome é jogado na imprensa para que se enfraqueça e perca valor na “cotação”. Puro interesse político (às vezes, político-partidário).

Além disso, algumas fontes não são identificadas na matéria. Pedem para ter o anonimato preservado, e o jornalismo respeita, porque isso faz parte das regras do jogo. O leitor, no entanto, cansa de ler tanto texto feito na base da especulação, porque simplesmente não há um fato concreto por enquanto. Quiçá o secretariado seja anunciado nos próximos dias. Assim, começaremos o ano com, de fato, notícias novas.

A imprensa que julga

A morte do menino Lewdo Ricardo, de 9 anos, tem estado no noticiário cearense das últimas semanas. Tanto a mãe, Cristiane Coelho, quanto o pai, o subtenente do Exército Francilewdo Bezerra, estão sendo ouvidos e investigados pela Polícia. No dia 11 de novembro, o pai fora autuado em flagrante, por ter envenenado e matado o filho, após agredir a mulher. Ele teria obrigado a esposa a ingerir medicamentos e, em seguida, tentado o suicídio. Dias depois, o subtenente acorda do coma induzido e nega as acusações. A mulher passa a ser a acusada.

Em uma situação dessas, de comoção popular e de apelo da mídia, é bem difícil atingir o ideal de imparcialidade. Não são poucas as notícias em jornais e TVs que tomam parte, acusando ou defendendo um dos envolvidos. Ver apresentador de TV ou jornalista em texto impresso tentando fazer as vezes de investigador de Polícia é deprimente. A imprensa ajuda a julgar. Quando quer, ela absolve ou condena. Não é esse o papel dela, entretanto.

Natais por Francisco

Na edição de véspera de Natal, 24/12, O POVO publicou o caderno especial “Natais por Francisco”. A edição é parte de um projeto multiplataforma que congrega textos, fotos, vídeos e áudios. Antes, um vídeo (um ‘teaser’) já estava nos sites de redes sociais do Grupo, dando ao leitor uma amostra do que ele leria dias adiante. Documentários (‘webdocs’) foram produzidos com as histórias contadas. Nos áudios, há uma trilha sonora criada especificamente para o projeto.

Não é a primeira iniciativa envolvendo mais de uma plataforma que O POVO cria. Algumas narrativas já têm sido mostradas ao leitor usando texto, vídeo e áudio, por exemplo. Isso é muito bom. Com a constante e continuada evolução dos meios digitais, não cabe mais apenas transpor o material impresso para o online. Cada plataforma (impresso, site, TV, rádio, dispositivos móveis etc.) exige uma linguagem específica e precisa de um material que tenha sido feito para ela. É assim que reavivamos o jornalismo e seguimos tentando surpreender o leitor.

Um 2015 feliz

Nesta última coluna do ano, aproveito para agradecer a parceria e a colaboração dos leitores que me ajudaram a ler o jornal e a rever muitos conceitos sobre o jornalismo e os jornalistas. 2014 foi um ano extraordinário sob muitos pontos de vista. Que 2015 o supere e encha este jornal de notícias animadoras. Aos seus e aos meus, desejo que seja mais um ano sensacional.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo