Em 2010, a Petrobrás foi a primeira empresa latino-americana a entrar na lista das 50 companhias mais inovadoras do mundo, da Boston Consulting Group. Naquele ano, ela ocupou o 41º lugar, levada por indicadores como crescimento de 28% no faturamento, de 5,2% no lucro antes de juros e impostos (Ebit, na sigla em inglês) e de 43,9% nos gastos de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
A Petrobrás foi, por muito tempo, considerada um grande exemplo brasileiro de inovação. A empresa lidera o registro de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas desenvolvida pela companhia é única no mundo. Com a oportunidade do pré-sal, várias multinacionais instalaram centros de P&D no Rio, para ficarem próximas da Petrobrás. Entre elas, estão IBM, GE, EMC, Schlumberger, Baker Hughes e FMC Technologies.
Mas a situação vem se deteriorando. Os investimentos da empresa em P&D passaram de US$ 1,4 bilhão em 2011 para US$ 1,1 bilhão em 2013. No primeiro semestre deste ano, os gastos da companhia em pesquisa somaram US$ 520 milhões, comparados a US$ 624 milhões no mesmo período de 2013. Depois de 2010, a Petrobrás não apareceu mais no ranking da BCG. Além da queda dos gastos em P&D, outros indicadores da empresa pioraram, como faturamento e Ebit.
Nos últimos anos, a situação financeira da empresa tem sido prejudicada pelos crimes revelados nas investigações da operação Lava Jato, e por uma política equivocada de preços de combustíveis. Para se ter uma ideia, o rombo estimado de R$ 10 bilhões da Petrobrás com o esquema descoberto pela Polícia Federal equivale ao que a empresa investiu em P&D nos últimos cinco anos.
Tem gente que acha que o Brasil não desenvolve tecnologia, só porque não tem uma indústria forte de eletrônicos de consumo. Não existe por aqui uma Apple ou uma Samsung. Na verdade, é difícil de ver a tecnologia brasileira porque ela está na produção de commodities. Essas matérias-primas podem ser padronizadas e indiferenciadas, mas seus processos de produção não o são. Sem tecnologia não se conquista uma posição de destaque no mercado mundial.
Além da Petrobrás, mineradoras brasileiras estão entre as empresas que mais registram patentes por aqui. O trabalho da Embrapa colocou a agricultura e a pecuária do País entre as mais competitivas do mundo, apesar de todos os gargalos logísticos.
Até recentemente, o sonho de boa parte dos pesquisadores por aqui era trabalhar em projetos da Petrobrás. O que está acontecendo com a estatal não destrói somente um patrimônio importante dos brasileiros, mas prejudica a própria capacidade de o País gerar tecnologia.
Centro
Localizado na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobrás, empregava, no fim de 2013, 1.959 pessoas, sendo 477 mestres e 241 doutores. Com cerca de 300 mil metros quadrados, contava com mais de 200 laboratórios e plantas experimentais. Naquele ano, a empresa tinha 1.543 patentes registradas no Brasil e 2.850 no exterior.
Rede
Os problemas da Petrobrás podem ter uma repercussão importante na comunidade científica brasileira. Em 2013, a empresa tinha parceria com mais de 100 universidades e centros de pesquisa no País. A empresa destinou, naquele ano, US$ 266 milhões a universidades e instituições nacionais. O dinheiro teve como objetivo financiar projetos de pesquisa, capacitar pesquisadores e ampliar infraestrutura de laboratórios.
******
Renato Cruz é colunista do Estado de S.Paulo