O planejamento faz parte de qualquer atividade humana. Especialmente, o jornalismo. Sem antever reportagens, arquitetar as próximas edições do veículo em questão ou organizar estratégias de divulgação dos clientes, a comunicação perderia seu propósito. Planejar é ainda mais tangente quando se lida com um evento que mexe com as massas, seja esportivo, diplomático ou universitário – entre outros. Nesses casos, é preciso cobrir um volumoso número de pessoas e tudo de interessante que elas possam oferecer. Tarefa difícil, mas realizável.
Em 2014, o Brasil festejou com a Copa do Mundo. Prefeituras e governos estaduais se uniram em diversos encontros, meses antes, para estruturar o projeto de comunicação, a fim de auxiliar repórteres de centenas de veículos, nacionais e internacionais. Nas cidades-sede, centros de mídia ofereceram o suporte necessário a uma cobertura satisfatória. Lá os jornalistas encontraram profissionais capacitados, multilíngues, que direcionaram pautas e ofertaram informações importantes para o fechamento das matérias. Em Porto Alegre, por exemplo, indivíduos de diferentes emissoras, corporativas e independentes, se locupletaram de grande estrutura. Sem credencial da Fifa, o Centro – situado na Usina do Gasômetro – foi a salvação de muitos deles.
A força-tarefa da comunicação na Copa funcionou magistralmente, tanto é que muitas histórias dos visitantes que por aqui passaram foram contadas. Por um lado, essa é a essência do jornalismo; o estranho, o exótico. O brilhantismo exibido dentro do campo, portanto, espelhou o que acontecia fora dele. Ademais, nossa imprensa é deveras crítica, implacável com as mazelas do poder público. No caso do Mundial de futebol, contudo, o noticiário negativo ficou restrito às polêmicas de meses antecedentes. A alegria da nação em receber os estrangeiros foi tão grande que jornalistas não tinham o que reportar além deste inesquecível intercâmbio cultural.
Megaeventos vencem nos detalhes
No próximo ano, outro grande acontecimento dará as caras em território tupiniquim: as Olimpíadas. A repercussão deverá ser semelhante à da Copa, embora limitada a um único estado – o Rio de Janeiro. Segundo o governo federal, a preparação está sendo feita desde já. E não poderia ser diferente. Quem já participou da cobertura de um megaevento sabe: os detalhes são profusos e estão em constante modificação, exigindo novos procedimentos e ousadas estratégias comunicacionais.
Planejar megaevento é deveras diferente de planejar a comunicação para um cliente – uma grande corporação, por exemplo. O brainstorm é muito mais amplo. O produto final é diferente. Por mais que se faça um planejamento minucioso, contudo, sempre há a possibilidade de faltar algum detalhe. Em termos de publicação de matérias, por exemplo, há tradutores suficientes para auxiliar os repórteres? A equipe disponível conseguirá suportar o grande volume de solicitações da imprensa? Quantos computadores serão necessários para suprir os profissionais que virão? Quem se responsabilizará por fornecer a internet? As perguntas tangenciam o infinito em se tratando de gestão comunicacional em megaevento. É um trabalho e tanto.
Levará décadas até que o Brasil sedie a Copa e as Olimpíadas novamente. Talvez nunca mais. Nem por isso outros eventos que estão por vir merecem descaso. Possivelmente, nenhum será tão representativo ou longo, mas também retratam consideráveis desafios. Deve-se pensar em tudo, desde a comunicação externa até a identidade visual. É preciso estabelecer expedientes de intermediação entre fontes e mídia. Quem fala em qual situação? Quem assume a responsabilidade em caso de crise de imagem? E por aí vai.
Ao provar que tem capacidade e estrutura para sediar grandes eventos, o Brasil irrompeu de vez no cenário internacional, apresentando seus predicados para a hospedagem e recepção de turistas, sobretudo os jornalistas. A comunicação da Copa teve um papel preponderante nesta boa fama.
Destarte, gestão de megaevento é uma área laboriosa, que anseia a especialização. Um prolífero mercado se apresenta. Vamos ver o que as faculdades – e suas pós-graduações – pensam sobre isso.
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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo