Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governos sofisticam ferramentas para controle da informação

Novas tecnologias, em teoria, tornam mais difícil que governos controlem o fluxo de informações de um país. Críticos já chegaram a afirmar que o nascimento da internet foi um prenúncio da morte da censura. Ainda assim, como aponta o artigo de capa da edição de janeiro da revista Columbia Journalism Review, “a censura está prosperando na era da informação”.

A crença de que a internet – com suas redes sociais – está transferindo o poder dos governantes para a sociedade civil e os chamados “jornalistas cidadãos” obscurece o fato de que regimes autocráticos vêm controlando cada vez mais a informação que chega à sociedade.

“Como resultado, a promessa da internet de acesso aberto a fontes de informação independentes e diversas é uma realidade, em grande parte, para a minoria da humanidade que vive em democracias maduras”, sentencia o artigo assinado pelo professor Philip Bennett, diretor do Centro DeWitt Wallace para Mídia e Democracia, e o colunista Moises Naim, editor colaborador da revista The Atlantic.

Eles citam países como Equador, Hungria e Turquia como exemplos de governos que seguem o modelo autocrático de nações como Rússia, China e Irã, onde é comum que o Estado controle organizações de mídia e o conteúdo a que a população tem acesso.

Muitos dos casos de censura analisados por Bennett e Naim eram praticados às claras, mas eles ficaram surpresos com a quantidade de censura escondida e com a dificuldade em identificá-la, por conta de alguns aspectos: por vezes, os governos disfarçam medidas para o controle da mídia como fatores de mercado; além disso, em muitos países o uso da internet e a censura expandem aceleradamente no mesmo ritmo; por fim, enquanto a internet é um fenômeno global, a censura costuma ser local, ou seja, isolada.

A Venezuela é um exemplo claro em que estes três aspectos aparecem. O aumento do uso da internet está entre os mais acelerados do mundo. O governo venezuelano, por sua vez, dedica-se a um amplo programa de controle de informações. Entre os métodos usados pelas autoridades está a compra de veículos de mídia independentes por empresas de fachada. Tamoa Calzadilla, que renunciou ao cargo de editora do Últimas Notícias, o jornal de maior circulação da Venezuela, depois que compradores anônimos assumiram o controle da publicação, diz que a pressão sofrida pelos jornalistas de seu país não é bem compreendida na Europa ou nos EUA. “Esta não é a censura clássica, onde eles colocam um soldado na porta de um jornal e agridem os jornalistas. Em vez disso, eles compram o jornal, processam os repórteres, espiam suas comunicações e as expõem na televisão estatal. Isso é censura para o século 21”.