Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A liberdade contra a infâmia [vídeo]

Bem-vindos à era do lápis. Tal como o conhecemos, tem mais de 400 anos. Infalível, durável, leve, barato, adorado por crianças e adultos. Em plena era digital, se transformou em poderoso símbolo da liberdade de expressão. Só ele consegue suplantar o fuzil AK-47 que na semana passada massacrou dezessete cidadãos franceses, doze deles jornalistas gráficos. Milhões de franceses o empunharam em protesto no último domingo (11/1).

Bem-vindos à edição extra do Observatório da Imprensa na TV. Interrompemos a série sobre o golpe militar de 1964 para mostrar os efeitos da tragédia do nosso tempo: a religião transformada em arma de guerra, o sagrado vencido pelo profano, nome de Deus a serviço do Demônio.

A extraordinária resposta do povo francês ao banho de sangue perpetrado pelos terroristas dias antes nos remete obrigatoriamente ao valores e palavras que inspiraram os revolucionários de 1789: Liberté, Egalité, Fraternité. Estas palavras mágicas, mesmo para quem não tem familiaridade com o idioma, constituem o trinômio elementar do dicionário político universal.

A França reencontrou-se com o seu passado e o mundo livre reencontrou-se com a França. A derrubada do absolutismo e do poder clerical voltou à ordem do dia. O combate implacável ao terrorismo só será bem sucedido se acompanhado por um compromisso integral com a democracia e o secularismo republicano.

Os princípios básicos da revolução dos direitos humanos conhecida como a Revolução Francesa estavam embutidos em cada edição do Charlie Hebdo. Esta semelhança apertou o gatilho das armas dos jihadistas e está levando o mundo livre a adotar como sua identidade o título de uma publicação semanal fundada há apenas 44 anos.

“Écrasez l’infâme”, arrasem a infâmia, proclamava o filósofo Voltaire. Domingo passado, no Boulevard Voltaire, em Paris, cerca de 250 anos depois, percebemos as armas capazes de liquidar a intolerância e o fanatismo religioso: unidade, serenidade, respeito ao outro.

Je suis Charlie, somos todos Charlie, significa que somos zelosos defensores da liberdade de expressão, respeitamos os jornalistas porque defendem o nosso direito de pensar mas também podemos discutir os seus erros.

Com a intransigência e o sangue de dezessete franceses livres, os novos maquis, o mundo de repente tornou-se um imenso Observatório da Imprensa. (Alberto Dines)