Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

França acusada de hipocrisia por prisão de comediante

Dezenas de milhares de fãs do comediante francês Dieudonne acusaram as autoridades do país de hipocrisia depois que o ator foi preso, acusado de fazer apologia ao terrorismo por publicar em seu perfil no Facebook a frase “Je me sens Charlie Coulibaly” (“Eu me sinto como Charlie Coulibaly”). A frase era uma referência a Amedy Coulibaly – o homem que fez reféns em um mercado judaico um dia após o atentado ao semanário satírico Charlie Hebdo – e à frase “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”), usada mundialmente para apoiar as vítimas do ataque.

Dieudonne é um comediante polêmico e já foi indiciado por fazer piadas sobre o Holocausto. Ele possui uma grande quantidade de seguidores nas redes sociais, incluindo mais de 900 mil fãs no Facebook. A maioria dos comentários em sua página foram de apoio e o nome do artista chegou a ficar brevemente nos trending topics do Twitter.

Alguns fãs, no entanto, criticaram a postura do humorista, dizendo haver uma grande diferença entre liberdade de expressão e incitação ao ódio.

Dieudonne deve ser julgado em fevereiro de 2015.

Mais de cem prisões

A prisão do humorista foi apenas uma dentre dezenas de casos (estima-se que mais de cem) abertos pelas autoridades francesas desde os ataques ao Charlie Hebdo. O número é bastante superior à média de prisões anuais na França por apologia ao terrorismo (cerca de duas por ano).

Emmanuel Pierrat, advogado especializado em mídia e membro da PEN International (associação internacional de escritores que apoia a liberdade de expressão), disse que o caso de Dieudonne será complicado de se julgar dada a ambiguidade da explosão do comediante. No entanto, ele crê que as autoridades cometeram um erro ao prendê-lo.

Tensão em vários países

Dieudonne não foi o único a não apoiar as vítimas do Charlie Hebdo. Em diversos países, uma série de protestos violentos marcou o período posterior ao atentado.

Na República do Níger, manifestantes atearam fogo a igrejas e saquearam lojas na capital Niamey. A Embaixada francesa local recomendou a seus cidadãos que não saíssem às ruas. Em Zinder, ex-colônia francesa e segunda maior cidade do Níger, cinco pessoas foram mortas depois que igrejas locais foram incendiadas.

Em Karachi, no Paquistão, a polícia precisou usar gás lacrimogêneo e canhões de água contra manifestantes que se aglomeraram diante do consulado francês. Em Argel, capital da Argélia, vários policiais ficaram feridos em confrontos com manifestantes.

Na Bélgica, centenas de soldados foram enviados às ruas para proteger alvos potenciais de terrorismo depois que dois homens armados foram mortos durante um ataque anti-islâmico na cidade de Vervier.

Em discurso à população, o presidente francês, François Hollande, declarou que os manifestantes anti-Charlie Hebdo de outros países não compreendem o apego da França à liberdade de expressão. Depois do atentado ao Hebdo, a popularidade do presidente caiu de 34% para 24%.