Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TV por assinatura em questão

Recém-divulgada, uma pesquisa do Ibope realizada em lares que dispõem de algum serviço de TV paga no Brasil voltou a constatar um dos fenômenos mais intrigantes deste mercado: 60% dos assinantes assistem exclusivamente canais abertos, disponíveis gratuitamente.

Estamos falando de gente que paga entre R$ 50 e R$ 300, de acordo com o pacote, por uma miríade de canais (jornalísticos, infantis, esportivos, científicos, de filmes etc.), mas permanece sintonizada em Globo, SBT, Record e Band, para citar as quatro maiores.

O jornalista Ricardo Feltrin, que divulgou o estudo do Ibope em sua coluna no UOL, especula que uma das razões para este comportamento esteja relacionada à qualidade do sinal. Quem precisa de antena para ver TV aberta sofre, dependendo do local, com más transmissões.

Ao assinar um pacote de TV paga, seja por cabo, fibra ou satélite, o sinal passa a ser digital e, claro, melhora muito, escreve ele.

O jornalista lembra, porém, que a legislação brasileira deu prazo até 2018 para que todas as transmissões da TV aberta sejam digitais. Isso ocorrendo, de posse de uma boa antena, o espectador passa a ter imagens de qualidade sem a necessidade de assinar um pacote de TV paga.

Conexão de internet

Comprar uma boa antena HD é justamente o primeiro passo sugerido “para se livrar já do seu pacote de TV a cabo”, como escreve o analista político americano David Sirota.

Este é um movimento que está engrossando nos Estados Unidos.

Enquanto no Brasil o número de assinantes é crescente (acaba de chegar a 20 milhões), os EUA registram queda. Entre 2010 e 2013, cerca de 5 milhões de usuários deixaram de pagar pacotes de TV por assinatura.

Em um artigo pessoal, e bem-humorado, na revista eletrônica “Salon”, Sirota pergunta: diante da revolução tecnológica em curso, qual é o sentido de pagar US$ 100 (cerca de R$ 260) por pacotes de TV paga?

Além das grandes redes de TV, a boa antena que ele adquiriu capta o sinal de algumas dezenas de canais digitais. Pesquisando sobre o assunto, encontrei relatos de espectadores falando em 20, 30 e até 50 canais capturados legalmente com uma antena digital (na faixa de US$ 50, ou R$ 135).

O segundo passo, propõe Sirota, é se conectar com uma loja on-line, do tipo Apple TV. O dispositivo custa US$ 99 (cerca de R$ 260) e facilita muito, primeiro, a conexão do seu computador com a TV, o que inclui a possibilidade de ver muito conteúdo de graça, via YouTube, por exemplo.

Vou pular o terceiro passo, no qual ele ensina como “espelhar” a sua TV com a de algum parente que pague por alguns serviços. O analista diz que isso não é ilegal, mas reconhece ser uma área “cinzenta”.

O quarto passo é o mais básico: pagar pelo que você quer ver. O Netlfix é o primeiro serviço citado nesta etapa (R$ 17,90 por mês). Mas, digamos, ele lembra, que você seja fã de “Mad Men” e não queira esperar um ano até que o serviço ofereça a nova temporada. Fácil. Você pode comprá-la por US$ 35 (cerca de R$ 90) na Apple TV.

Por fim, você precisa de uma conexão de internet de alta velocidade, já que vai recorrer a ela frequentemente. Na pior das hipóteses, a conta dos gastos mensais pode empatar com o do pacote de TV por assinatura. A diferença é pagar para ver apenas o que você quer.

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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo