Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Edição pós-atentado se esgota em poucos minutos

Muitas bancas francesas amanheceram nesta quarta-feira [14/1] com longas filas de pessoas à espera para comprar a edição especial do Charlie Hebdo, publicado uma semana depois de a sede do jornal satírico ser atacada pelos irmãos Kouachi. Cinco milhões de exemplares foram colocados à venda (muito maior do que a tiragem usual de 50 mil), e as cópias começaram a se esgotar minutos depois da abertura dos estabelecimentos. “Foi incrível. Tinha filas de 60 ou 70 pessoas”, relatou uma vendedora de uma banca no Centro de Paris à agência AFP. “Nunca tinha visto nada parecido. Os meus 450 exemplares foram vendidos em 15 minutos.”

Cópias serão doadas às famílias das 12 vítimas do atentado terrorista do dia 7 de janeiro. As bancas devem receber novos exemplares nos próximos dias. Serão distribuídos 500 mil por dia.

Críticas

A capa, que mostra Maomé chorando e segurando uma placa com a frase “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), lema das manifestações contra o atentado e em apoio à liberdade de expressão, foi alvo de críticas pelas autoridades muçulmanas e dividiu a imprensa.

Shawqi Allam, principal clérigo do Egito, alertou o jornal contra a publicação da nova caricatura do profeta Maomé, dizendo que era um ato racista que iria incitar o ódio e revoltar muçulmanos ao redor do mundo.

Vários jornais ao redor do mundo reproduziram a capa na terça-feira. Entre eles estão o Guardian, o Le Monde, o Libération (que vem abrigando o semanário), o Washington Post e o Wall Street Journal. Redes de televisão também exibiram, mas o New York Times optou por não mostrar a capa. A BBC e a ABC australiana exibiram rapidamente e com avisos de atenção para o teor das imagens.

A edição

A edição, de número 1.178, será traduzida em 16 idiomas. O conteúdo traz desenhos inéditos de Charb, Cabu, Tignous e Wolinski, mortos no ataque, e o restante foi produzido exclusivamente por sobreviventes da equipe, sem a contribuição de colaboradores externos.

O humor satírico do jornal foi mantido e há caricaturas de Maomé nas oito páginas da edição, diferentemente das 16 páginas normalmente publicadas.

O novo diretor da publicação, Gérard Biard, havia descartado um número de espírito “necrológico”. A ideia era “fazer rir”, adiantou.

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