Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O perfil biográfico de João Santana

Em junho de 2013 – quando os protestos assustaram o país e a popularidade da presidente Dilma Rousseff desabou –, fiz um perfil do marqueteiro João Santana paraa revista Época. Àquela altura, seu currículo incluía a eleição de seis presidentes da República – entre eles o reeleito Luiz Inácio Lula da Silva, depois da crise do chamado “mensalão”, e a primeira eleição de Dilma Rousseff.

Já tinha tentado, um ano atrás, como repórter da revista Piauí. A mulher e superassessora de Santana, Mônica Moura, não conseguiu convencê-lo. “Quem sabe mais para a frente”, consolou. Foi nela que apostei as fichas nesta segunda tentativa. Demorou, demorou, demorou, demorou – mas dessa vez ele concordou.

O marqueteiro só deu o ar da graça 71 dias depois do primeiro contato – felizmente seguido por uma primeira longa entrevista. Houve uma outra, igualmente sem pressa, quinze dias depois. E, a pedido, mais uns acréscimos que ele próprio escreveu, chamou de “Pílulas” e mandou por e-mail.

Personagem intrigante

Ao longo desse tempo, entrevistei dezenas de pessoas que pudessem contribuir para um perfil multifacetado do personagem. A maioria delas pessoalmente, outras por telefone e por e-mail. Li, e me diverti, com o pouco conhecido romance de Santana – um verdadeiro compêndio de antropológicas sacanagens, por assim dizer. Achei, na internet e em sebos, os discos do grupo Bendegó, da década de 1970. Naquela época, Santana tinha um heterônimo – Patinhas –, e com ele assinou grande parte das letras irreverentes do Bendegó. A matéria foi publicada na edição de 7 de outubro de 2013: “João Santana, o homem que elegeu seis presidentes.”

No dia em que seu sétimo presidente foi eleito – Dilma Rousseff, contra Aécio Neves, em outubro de 2014 –, pensei que a reportagem poderia, ampliada, virar um livro de ocasião. É a minha parte da culpa. A outra parte é de Carlos Andreazza, o editor-executivo da Record. Fiz outras entrevistas – inclusive em Tucano, no sertão da Bahia, onde Santana nasceu –, e voltei a atazanar Mônica Moura pedindo uma nova entrevista em que João Santana falasse com exclusividade da campanha eleitoral mais acirrada de sua vida profissional.

Eles já estavam entre Paris e Nova York, em viagem de descanso que pretendia ser longa. Mandei as perguntas por e-mail. O retorno demorou, demorou, demorou – mas as respostas chegaram. Suscitaram mais perguntas, e novas respostas vieram, em longa entrevista. É um extenso, emocionado e às vezes irado desabafo contra os “derrotados fanfarrões” – apelido que pespegou nos perdedores. “Não encontramos oponentes à altura”, disse. A entrevista está publicada em duas partes. Uma, sobre a barulhenta polêmica da “antropofagia dos anões”, está no capítulo 2. A outra, no final.

Este livro pretende ser, apenas, um perfil biográfico, nas limitações do gênero. Não mais que uma reportagem de maior tamanho, que possa contribuir para desvendar um pouco mais sobre esse rico, intrigante e complexo personagem que saiu do sertão de Tucano, na Bahia, e se transformou em um dos homens mais poderosos do Brasil.

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Texto da “orelha”

João Santana é personagem tão falado – comentado, elogiado, temido, admirado, odiado, incensado – quanto desconhecido.

Era – até este livro.

O que Luiz Maklouf Carvalho, experiente e respeitado repórter, faz neste perfil biográfico, por meio de grande jornalismo, é lançar a mais independente luz sobre a trajetória de um homem – marqueteiro político que elegeu sete presidentes mundo afora – tornado público pela sua capacidade de influir decisivamente, na República, para além dos limites das campanhas eleitorais.

Talvez seja exagero dizer que João Santana é um ministro informal, onipresente, no governo de Dilma Rousseff – em caso positivo, terá sido também no de Lula –, mas da leitura deste livro não resta dúvida de que nunca um marqueteiro teve tanto poder sobre os destinos das políticas públicas no Brasil. O que isso quer dizer? O autor não responde. Não pretende responder. Antes, quer fazer – e faz – jornalismo, reportagem. Quer levantar as questões, oferecer subsídios, informações – e é muito bem-sucedido neste propósito. O resto, o eventual juízo, é com o leitor.

São dezenas de entrevistas, incluídas as do próprio Santana, encadeadas pela pena arguta e sempre divertida – texto prazeroso de ler – de Maklouf, a resultar, pois, num consistente retrato de um homem cujo sucesso certamente não se deu por acaso.

Sobre o autor

Luiz Maklouf Carvalho, jornalista e bacharel em Direito, nasceu em Belém, Pará, em 1953. Mora em São Paulo desde 1983. Tem dois Prêmios Jabuti de livro-reportagem – por Mulheres que foram à luta armada e Já vi esse filme – Reportagens e polêmicas sobre Lula e/ou o PT (1984-2005).

É autor, também, de Cobras criadas – David Nasser e a revista O Cruzeiro, O coronel rompe o silêncio, sobre a guerrilha do Araguaia, e Contido a bala – A vida e a morte de Paulo Fontelles, advogado de posseiros no sul do Pará.

Foi repórter, entre outros, dos jornais Resistência, Movimento, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, e das revistas Piauí e Época.

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Luiz Maklouf Carvalho é jornalista