Como e o que fazer para que a edição impressa de um jornal se torne atraente, publicando notícias factuais num mundo, aonde a informação é cada vez mais acessível? Seria eu uma jornalista privilegiada se tivesse a resposta certeira e única para esta questão tão difícil. Observando e lendo o jornal, sem participar do fazer, posso dizer de algumas impressões que tive ao longo da semana que me deixaram feliz como ombudsman do O POVO.
Na edição de quarta-feira passada (21/1), a manchete do O POVO foi: “Seca deve se agravar e atingir zonas urbanas”. No dia anterior, a manchete destacou: “Combustíveis, crédito e importados ficarão mais caros”. As matérias que deram origem às manchetes foram produzidas a partir de entrevistas coletivas convocadas pelo poder público. Nas duas, a Redação apostou em levar ao leitor a informação mais detalhada possível. Na primeira, o planejamento permitiu que se fosse até o Sertão para contar o drama de quem hoje vive praticamente sem água, além de ouvir técnicos da área e o governador do Estado. No caso das medidas econômicas, após o anúncio, partiu-se para buscar uma análise qualificada do assunto. O resultado é que nos dois episódios, o jornal trouxe informações novas e destrinchou para os leitores.
O editor-executivo do núcleo cotidiano, Érico Firmo, explica como se deu a apuração. “Trouxemos a informação de que o prognóstico seria negativo, a partir de informação do Inpe, e de que o Governo preparava medidas de resposta. Com essa informação antecipada, ainda no fim de semana foi planejada a viagem que fizemos na terça-feira, para ter o olhar in loco sobre a cobertura”.
A editora-adjunta do núcleo de negócios, Nathália Bernardo, lembra que o pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não era esperado. “Acompanhamos pela web a entrevista coletiva, concedida no início da noite, e mobilizamos boa parte da equipe para dar conta da pauta: informação em tempo real para o portal, com aprofundamento para o impresso. Foi esforço coletivo à altura do impacto que as medidas terão no bolso do leitor – sem nos esquecermos do outro assunto do dia, a falta de energia que atingiu 11 estados e o Distrito Federal”.
Fez bem o jornal em ir a campo. Seu Manoel Vicente das Chagas, agricultor lá de Caridade, num trecho da matéria diz: “Será, meu Deus, que este ano eu mato a saudade da minha lavoura?” A frase é emblemática. É um detalhe, mas deixou o texto vivo. Fizeram bem em mobilizar a equipe, num dia cheio de novidades. É lógico que as matérias têm pequenas lacunas, mas os acertos, nestes dias, foram superiores.
De espinhos
Mas a semana contou também com espinhos. No domingo passado (18/1), a manchete do O POVO foi “Sinais de que você será promovido ou demitido”. A matéria, publicada no caderno “Empregos & Carreiras”, carece de substância para uma chamada tão assertiva. Deveria ter sido melhor trabalhada, com dados e fontes completos. O leitor foi prejudicado por falta de informações mais precisas.
A jornalista Nathália Bernardo diz que a meta é que todo material produzido pelo Núcleo de Negócios siga o padrão da cobertura do pacote econômico. “Reconhecemos não ter ocorrido (o padrão) na matéria de capa do caderno “Empregos & Carreiras” da semana passada. As lacunas serão usadas como exemplo a ser evitado, com ainda mais rigor nas pautas, apuração e edição do material”. Ótimo. Agindo dessa maneira o leitor agradece.
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Tânia Alves é ombudsman do jornalO Povo