Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tânia Alves

Leitor ligou para a Ouvidoria do O POVO, na terça-feira passada, 27 de janeiro, para comentar sobre a manchete do dia que informava: “25 prefeituras desistem de fazer Carnaval”. A matéria, publicada na página 20, da Editoria Política, foi elaborada a partir de um relatório parcial do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e apontava, em razão da estiagem, cortes de verbas destinadas à festa, de cerca de R$ 19 milhões. Das cidades, citadas na matéria, 22 delas estão em estado de emergência.

O leitor defende que a imprensa deveria não somente expor o corte nos investimentos públicos para a festa momina, mas mostrar também o quanto o Carnaval é uma boa oportunidade de negócio para as cidades. “O Carnaval melhora a economia dos municípios e leva alegria à população. Todo mundo ganha: as pousadas, o comércio e os moradores”. Para ele, a cobertura precisa ser diferente para esclarecer que, mesmo em época de seca, os municípios perdem se não realizarem a folia.

Concordo em parte com o leitor. Nos últimos 15 dias, O POVO publicou duas manchetes de capa que tratam de seca e suspensão do Carnaval. Além da manchete já citada acima, no dia 22, o jornal destacou “Seca faz Camilo suspender dinheiro para o Carnaval”. É uma abordagem necessária após o prognóstico da Funceme de chuvas abaixo da média histórica nos três primeiros meses da quadra chuvosa (fevereiro a maio). Sei que o jornal também abordou a importância da festa para a economia dos municípios em colunas e artigos. No dia 24 passado, Érico Firmo, na coluna Política, defendeu: “Em muitos municípios – no litoral, mas também no Sertão e na Serra – o Carnaval é muito mais que folia. É atividade econômica. Atrai turistas, que levam dinheiro como em nenhuma outra época do ano.

Precioso sobretudo no momento em que a estiagem destrói a economia rural. Nesses casos, é bom fazer a conta, pois o que é observado apenas na planilha de despesas pode, na verdade, esconder lucro”. A defesa da festa também tem aparecido em artigos de jornalistas da casa na página de Opinião, como o publicado na segunda-feira, 26, pela jornalista Fátima Sudário.

Talvez seja pouco. Faltou dar a visibilidade que uma manchete proporciona.

Em resposta ao questionamento do leitor, o editor-adjunto do Núcleo de Conjuntura, Ítalo Coriolano, disse que em nenhum momento foi colocado nas matérias que as festas são boas ou ruins: “Apenas apresentamos a decisão de algumas prefeituras em não realizar os eventos devido à seca e à falta de recursos, sem nenhum juízo de valor. Quanto à importância para a cultura e para a economia, acredito que isso foi bem contemplado nos artigos, pontos de vista e colunas que trataram do tema”. O editor informou ainda que vai sugerir que a Redação faça matéria específica sobre os ganhos econômicos do Carnaval.

Ainda está em tempo. Em alguns municípios, a festa é tão importante para a economia como são as romarias de Padre Cícero em Juazeiro do Norte e a de São Francisco em Canindé.

Resultado do Enem

Durante as duas últimas semanas, dois leitores telefonaram para O POVO cobrando matéria sobre o estudante João Victor Claudino dos Santos, que ficou conhecido no Brasil inteiro a partir de matéria publicada no jornal, no dia 19 de novembro do ano passado, informando ele haver acertado 95% das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Este menino foi notícia em todos os jornais e TVs do País e agora que saiu o resultado do Enem, vocês não fazem matéria”?, indagou um deles.

O questionamento é pertinente. O jornal está devendo uma matéria que mostre a nota final do estudante da Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra após ser divulgada a nota da Redação.

Será que João Victor foi aprovado? O POVO não pode deixar os leitores sem essa informação. A matéria sobre o desempenho de João Victor foi uma das mais lidas de 2014 no portal O POVO Online.

Questionado, o editor-executivo de Cotidiano, Érico Firmo, respondeu: “Fizemos contato com ele, que não quis ser objeto de matéria. Por razões pessoais, não quis aparecer em nova matéria. Como é questão de foro íntimo e não podemos, efetivamente, invadir dados que são pessoais e sigilosos, respeitamos a vontade dele. Mas continuamos tentando”. Se o estudante não quer mais aparecer depois da superexposição na mídia, deve ser respeitado. Mas, o jornal precisa buscar outros meios para dar continuidade a essa história, muito interessante por sinal, que teve repercussão nacional.

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Tânia Alvesé ombudsman do jornalO Povo