Iniciado há cerca de seis anos, o movimento “faça você mesmo”, ou “maker”, tem ganhado espaço no mundo da tecnologia. A ideia por trás do conceito é que qualquer pessoa seja capaz de criar equipamentos de baixo custo que resolvam algum problema específico de seu dia a dia, ou que tenham potencial para virar produtos novos.
No Brasil, a ideia ainda caminha a passos lentos. E a razão para isso não seria apenas o baixo nível educacional de muitos brasileiros em ciências exatas. É a carga tributária que pesa. “É muito difícil conseguir os componentes a um preço razoável. Não consigo entender como as pessoas não podem ter acesso às ferramentas para fazer o que elas querem. Só o Brasil e a Rússia fazem isso”, disse Chris Anderson, autor do livro “A Cauda Longa” e exeditor da revista “Wired”. Hoje à frente da fabricante de drones 3D Robotics, o físico participou ontem [quarta, 4/2] da Campus Party, evento de tecnologia que acontece até sábado em São Paulo.
Anderson diz que os brasileiros estão bem capacitados no mundo da tecnologia. “Nossos melhores programadores [na 3D Robotics] são brasileiros. Acabamos, inclusive, de levar um brasileiro para trabalhar com a gente nos EUA”.
Carga pesada
O “faça você mesmo” é um dos principais temas da Campus Party deste ano. Até sábado, ele será abordado em palestras, atividades práticas e conversas com empresários como Gustavo Furlan e Luís Fernando Chavier, fundadores da Circuitar. Criada há um ano e meio, a empresa de São Carlos (SP) vende pequenas placas que podem ser usadas em conjunto para a criação de projetos de automação industrial e residencial.
Segundo Chavier, 2,4 mil peças já foram vendidas para empresas e consumidores pessoa física. Cada módulo custa entre R$ 20 e R$ 185. As peças são montadas pela própria equipe da companhia, composta por cinco pessoas. De acordo com Chavier, a meta é crescer quase cinco vezes em 2015. “A área educacional tem um bom potencial”, diz Furlan. A Circuitar é uma das 200 startups que participam da Startup & Makers Camp, uma área específica para companhias novatas na Campus Party.
Na segundafeira [2/2], a Prefeitura de São Paulo anunciou que abrirá edital para a instalação de 12 FabLabs na cidade. A estrutura consiste de pequenas oficinas que oferecem equipamentos como impressoras 3D disponíves para que empreendedores possam trabalhar em suas criações. A cidade Já conta com algumas estruturas do tipo criadas por aficionados em tecnologia, os chamados “hackerspaces”. O mais famoso deles é o Garoa Hacker Club, localizado na zona oeste da capital.
Fundador da Multilógica, loja virtual especializada em componentes eletrônicos usados pelos “makers”, André Menks tem visto a procura aumentar nos últimos tempos. Mas o crescimento está trazendo um problema para a companhia: com sede em São Paulo, a companhia está se vendo na necessidade de contratar um contador só para fazer a emissão de notas fiscais de produtos enviados aos clientes de outros estados do país. Um custo bastante pesado para uma empresa de apenas seis pessoas, disse.
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Gustavo Brigatto, do Valor Econômico