Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Oscar 2015

O documentarista britânico Nick Broomfield disse que a polêmica cinebiografia American Sniper é um filme do qual Adolf Hitler teria orgulho de ter feito. Em entrevista ao [suplemento] “The Independent Magazine”, do jornal The Independent, o premiado cineasta o apontou como exemplo do “fascismo estadunidense” que o fez questionar a decisão de morar nos Estados Unidos. “Depois de assistir a um filme como American Sniper, você pensa ‘Meu Deus, que m… estou fazendo aqui?’” Ele disse: “Acho que Adolf teria orgulho de tê-lo feito.”

Dirigido por Clint Eastwood, American Sniper é uma cinebiografia do atirador de elite da Marinha Chris Kyle, interpretado por Bradley Cooper. Com base no livro de memórias de Kyle, o filme conta a história de como ele se tornou uma lenda dentro das Forças Armadas, produzindo 164 “mortes confirmadas”, em quatro incursões ao Iraque. O filme é um grande sucesso de bilheteria nos EUA.

Perguntado se concorda com as críticas de que American Sniper é uma peça de propaganda, Broomfield – que está divulgando o seu novo documentário, Tales of the Grim Sleeper – rotulou-o de produto de um país fechado em uma luta existencial com sua própria história e futuro. “Tem sido incrível observar a coisa toda do Obama. Apenas para ver quão profundo ele [o fascismo americano] é. Tales of the Grim Sleeper é exatamente sobre isso: o inacreditável racismo que de fato remonta à escravidão e o país que não achou um jeito de superá-lo.” “Acho que quando você produz um filme como American Sniper, você está decadente”, acrescentou. “Você está se apegando aos seus esforços próprios e os está interiorizando. Você não é mais um líder mundial. Acho que isso deixa as pessoas muito inseguras e elas se voltam para seus medos mais básicos. O fato desse filme ter se tornado uma espécie de referência por aqui é preocupante.”

Novo documentário

O filme recebeu duras críticas por ser chauvinista, caracterizando os insurgentes iraquianos como “selvagens” e Falluja como “o novo Velho Oeste”. Apesar disso, o filme quebrou recordes de bilheteria nos Estados Unidos, para um fim de semana com a final do futebol [Super Bowl], arrecadando 21 milhões de libras [cerca de R$ 89 milhões]. Em termos comerciais, é de longe o mais bem-sucedido filme sobre as recentes guerras no Oriente Médio.

Enquanto isso, o novo documentário de Broomfield, Tales of the Grim Sleeper, investiga os assassinatos de mais de 150 prostitutas, principalmente afro-americanas, no centro-sul de Los Angeles. É o vigésimo documentário de Broomfield – alguns dos quais foram feitos nos Estados Unidos.

“Se você estivesse fazendo filmes na década de 1850, quando o império britânico era importante, você, sem dúvida, estaria mais interessado em fazer filmes na Grã-Bretanha, sobre o povo britânico”, ele explicou. “Mas acho que, de certo modo, é sobre mudar. As pessoas olham para os Estados Unidos pelas coisas que estão para acontecer no futuro.”

******

Nick Clark, do Independent