Em sua mensagem ao Congresso, a presidente Dilma Rousseff tratou, entre outros assuntos, de acesso à internet: “Nosso objetivo será, nos próximos quatro anos, promover a universalização do acesso a um serviço de internet de banda larga barato, rápido e seguro, por meio do apoio à instalação de redes de fibra óptica, conectando 90% dos municípios e 45% dos domicílios com redes de ultrabanda larga”.
Durante a campanha, a presidente já havia falado num plano “Banda Larga para Todos”. Mas a nova proposta foi lançada sem que o governo tenha conseguido cumprir os objetivos da política anterior, chamada Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A meta era chegar ao fim de 2014 com 35 milhões de residências conectadas à internet rápida. Segundo a mesma mensagem, o número real foi de 23,9 milhões de conexões de banda larga fixa.
Atualmente, existem menos de 1 milhão de conexões de fibra óptica no País. Quando o governo promete conectar 45% dos domicílios com redes ópticas, na realidade fala em ter, em quatro anos, mais residências conectadas com internet ultrarrápida do que o total das casas conectadas atualmente, com qualquer tecnologia, já que as 23,9 milhões de conexões atuais correspondem a uma densidade de 36,5%, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Quarta geração
A fibra é uma tecnologia importante para garantir o acesso num ambiente em que o vídeo é cada vez mais presente. Serviços de vídeo sob demanda já fornecem conteúdo com resolução 4K, quatro vezes a alta definição plena oferecida pelos canais HD. Isso exige capacidade de rede.
Mas a proposta está muito distante da realidade. Uma pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), divulgada no ano passado, mostrou que 10% das residências brasileiras ainda usam acesso discado à internet. Isso mesmo. Aquele barulho chato de conexão com que estávamos acostumados no final da década de 1990 ainda faz parte do cotidiano de 1 em cada 10 usuários brasileiros de internet. E o principal motivo não é falta de renda do consumidor, mas falta de rede.
Onze por cento dos domicílios com internet ainda têm conexões com velocidade de até 256 quilobits por segundo. Quando foi lançado, em 2010, o PNBL foi ridicularizado por oferecer pacotes de 1 megabit por segundo (Mbps) a R$ 35. Há cinco anos, 1 Mbps já era pouco, e um em cada 10 usuários brasileiros de internet ainda navegam na rede com até um quarto dessa velocidade.
No fim do ano passado, havia 152,3 milhões de conexões de banda larga móvel, mas somente 5,5 milhões eram na tecnologia de quarta geração (4G). Por que não incentivar também as conexões móveis, que têm potencial de chegar a municípios menores mais rapidamente?
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Renato Cruz é colunista do Estado de S. Paulo