Em um reflexo da crescente preocupação pela cibersegurança, o governo dos Estados Unidos anunciou na última terça-feira a criação de uma agência que, inspirada na luta antiterrorista, coordenará as atuações no caso de um ataque cibernético. A decisão também coloca em evidência como a proteção da Internet está entre os grandes debates políticos no país depois de vários ataques recentes, sendo o mais significativo o que ocorreu em dezembro contra a multinacional Sony. A Casa Branca colocou este assunto como prioridade em sua nova estratégia de segurança nacional e, nesta sexta-feira [13/2], o presidente Barack Obama realizará um encontro com especialistas cibernéticos na Universidade de Stanford.
“A ameaça é mais diversificada, sofisticada e perigosa”, advertiu a assessora de segurança nacional e para a luta antiterrorista da Casa Branca, Lisa Monaco, no ato de apresentação da nova agência no Wilson Center, um laboratório de ideia em Washington. Monaco alertou que ataques como o da Sony – que os EUA atribuem à Coreia do Norte – vão se transformar na “norma” se o governo não se adaptar “rapidamente”.
A nova agência, denominada Centro de Integração de Inteligência contra a Ameaça Cibernética (CTIIC, pela sigla em inglês), vai reunir informações de inteligência de vários departamentos governamentais, que trabalham separadamente. “Precisamos compartilhar mais as informações e coordenar as ações. Podemos avaliar melhor as ameaças que se movem rapidamente”, afirmou a assessora da Casa Branca.
O CTIIC tenta copiar o modelo do Centro Nacional de Contraterrorismo, criado depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 por causa das críticas de que o Governo não compartilhou adequadamente informações de inteligência que poderiam ter evitado os ataques terroristas. Monaco admitiu diferenças entre a luta contra o terrorismo e a pirataria informática, mas considerou que as mudanças “estruturais, organizativas e culturais” aplicada no primeiro setor podem ser úteis no segundo.
A criação do CTIIC recebeu algumas críticas – entre outras de Melissa Hathaway, a primeira coordenadora de cibersegurança do Governo Obama – que afirmam que o centro pode ser desnecessário por já existirem outros organismos oficiais – como o FBI, a NSA e o Departamento de Segurança Interna – dedicados a analisar ameaças de cibersegurança. “Servirá para tapar um buraco crucial”, defendeu Monaco, assegurando que o centro de contraterrorismo não minou as responsabilidades de outras agências.
“Estamos vigiando você”
O contexto pressiona. As ciberameaças contra os EUA cresceram “em frequência, escala e sofisticação”, sublinhou a assessora de Obama. Entre os países com “capacidade” para realizar ataques, mencionou Rússia, China, Irã e Coreia do Norte. Além da Sony, as incursões também afetaram nos últimos meses outras grandes empresas, como Target, Home Depot e JPMorgan; além do próprio Governo: a conta de Twitter do Comando Central do Exército foi pirateada em janeiro pelo chamado Cibercalifado do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
O ataque contra o Twitter do Exército coincidiu com o anúncio do presidente Obama de uma proposta de lei que concederia proteção legal às empresas que fornecerem informações ao governo sobre ameaças informáticas e dotaria a Justiça com mais poderes para investigar e perseguir os autores de ataques e a compra e venda de informações roubadas de empresas e particulares. A iniciativa é muito similar a outra apresentada em 2011 e que não foi aprovada pelo Congresso.
E justamente na terça-feira, pouco antes da apresentação da nova agência de cibersegurança, a conta de Twitter da revista Newsweek foi pirateada durante alguns minutos pelo chamado Cibercalifado. O grupo citou uma “ciberjihad” contra os EUA e desejou à primeira-dama, Michelle Obama, “um Dia de São Valentim (o dia dos namorados nos EUA) sangrento”. “Estamos vigiando você, suas filhas e seu marido”, estava escrito no tuíte. O FBI investiga o ataque informático e as ameaças contra a família presidencial.
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Joan Faus, do El País, em Washington