Quando o primeiro iPad foi anunciado por Steve Jobs, há cinco anos, foi recebido com uma boa dose de desconfiança. Para a maior parte da imprensa especializada, dos analistas de mercado e dos fóruns de discussão, ele era apenas um iPod gigante, um projeto curioso mas sem foco definido. Era difícil saber para quê, exatamente, servia um iPad, e mais difícil ainda explicá-lo para quem perguntava se um tablet era algo de fato necessário. Reza a lenda que Jobs teria ficado arrasado com a recepção, muito diferente do que esperava; mas, se houve mesmo tristeza, ela com certeza acabou no dia 3 de abril, quando o aparelho chegou ao mercado e vendeu, apenas nas primeiras 24 horas, nada menos de 300 mil unidades. De lá para cá, mais de 225 milhões de iPads já foram comercializados.
Os iPads não foram os primeiros tablets. A ideia de se usar a tela como superfície de trabalho para um pequeno computador já vinha de muitos anos antes. E fazia sentido acoplada aos vários sistemas de reconhecimento de escrita imaginados pela indústria ao longo do tempo. O mais famoso entre os prototablets foi o GridPad, lançado em 1989 – mas, com a bisonha tela CGA monocromática de 600 x 480 pixels que se usava então, e rodando DOS, ele estava longe de ser um produto de uso universal. O GridPad fez sucesso entre empresas e órgãos governamentais que precisavam de um computador relativamente leve, e de boa mobilidade, sobretudo para conferir estoques e realizar trabalho de campo. Em 1992, um de seus principais pesquisadores pediu demissão para fundar a sua própria companhia. Este pesquisador era Jeff Hawkins, e a companhia, chamada Palm Computing, fez história desenvolvendo o Palm Pilot, primeiro tablet realmente popular. Muito do trabalho pioneiro de Hawkins está presente no iPad, a começar pelo conceito de rotação de tela, do qual ele detém a patente.
Se a Apple não chegou a inventar a categoria dos tablets, ela sem dúvida estabeleceu um paradigma, apresentando aos consumidores um belo sonho de consumo. Diferentemente dos seus antecessores, sempre voltados para a produtividade, o iPad é uma formidável maquininha de lazer, na qual, eventualmente, se pode até trabalhar. Ele continua sendo o melhor dos tablets, aquele que todos os outros tentam alcançar, sobretudo em usabilidade.
2 em 1
Cinco anos, porém, são um longo período no mundo da tecnologia, e a fila anda. As vendas de tablets vêm caindo consistentemente. Não há muito mistério por trás disso: desde que as telas dos smartphones cresceram e ficaram mais nítidas, eles passaram a desempenhar muitas das funções que, antes, eram atribuídas aos tablets. Ao mesmo tempo, de um ano para outro, não há muitas mudanças notáveis entre os diferentes modelos. O iPad Mini 2 e o iPad Mini 3 são tão parecidos, por exemplo, que a única diferença perceptível entre os dois é a leitura de digitais pelo 3. Ou seja, muito pouco para levar o usuário de volta às lojas.
Curiosamente, as vendas do Surface Pro 3, da Microsoft – que ainda são uma fração das vendas da Apple – têm subido. Ao contrário do iPad, o Surface, que vem uma carreira de altos e baixos, é um tablet voltado para produtividade, legítimo representante da categoria 2 em 1, que tanto pode ser tablet como notebook. Se este é o caminho do futuro, só o tempo dirá.
Até lá, o iPad segue invicto nos seus cinco anos de bons serviços.
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Cora Rónai, do Globo