Este texto não pretende defender os corruptos da Petrobras ou de qualquer outro escândalo que seja. Ao contrário, penso que os todos os envolvidos devem ser julgados, presos e punidos, caso seja comprovada a sua culpa. Da mesma forma, não se trata de defender o governo federal, que deve prestar conta de seus atos à população. Governo esse que, aliás, está perdido em meio à crise e tem adotado medidas de austeridade bastante conservadoras e impopulares, que geralmente são um prato cheio para que a opinião pública seja desfavorável, bem como para a oposição e seus aliados na mídia.
Nesse ínterim, há muita gente embarcando, sem um mínimo de reflexão, na campanha antigoverno e anti-PT promovida pela imprensa e replicada nas redes sociais, deixando se levar pela ênfase que a mídia hegemônica dá às mazelas e aos erros do governo. A preocupação não é a corrupção, mas sim, detonar a qualquer custo Dilma e o PT. Há uma clara seleção das notícias, enquanto outras são omitidas, como lhes convém. Não é preciso muito esforço para perceber a diferença de ênfase dada ao “mensalão” no ano passado e atualmente no caso da Petrobras, que chega a cansar o telespectador. Por outro lado, casos como o do metrô e a crise hídrica em São Paulo não são tratados da mesma forma e com a mesma ênfase, ganhando no máximo alguns segundos nos telejornais ou uma notinha de rodapé nos grandes jornais impressos.
Dizer que há corrupção na Petrobras é um fato. Aliás, não é de hoje que ela é assaltada. O jornalista Ricardo Boechat revelou recentemente que ganhou o prêmio Esso de jornalismo, em 1989, por uma reportagem que denunciava corrupção na Petrobras. Aliás, Boechat é um dos poucos jornalistas que tem coragem de dizer o que pensa sem medo sofrer retaliações, como aconteceu com o também jornalista e escritor Xico Sá, na Folha S.Paulo, quando ele declarou que seu voto seria em Dilma e acabou demitido do jornal. Este é um bom exemplo da forma como a grande mídia age, já que o caso, apesar de ganhar grande repercussão nas redes sociais, foi pouco noticiado na imprensa tradicional.
Contudo, a afirmação que a estatal esteja quebrando carece de veracidade. O jornalista Heródoto Barbeiro abriu espaço em seu programa na TV Cultura para ouvir um funcionário da Petrobras (o vídeo está disponível no YouTube) que desmentiu que a empresa esteja quebrando como está sendo noticiado por boa parte da imprensa brasileira. A despeito das frequentes notícias da queda das ações da empresa na bolsa de valores, corroboram para a informação de que a Petrobras não está tão a perigo assim a publicação de janeiro da agência norte-americana de notícias Reuters. Segundo a agência, “no terceiro trimestre do ano passado, a empresa se tornou a maior produtora de petróleo do mundo, entre as empresas de capital aberto, com média de 2,2 milhões de barris/dia. Nesse período, a Petrobras superou a Exxon, que era líder, e produziu média diária de 2,1 milhões de barris/dia”.
Muita informação desencontrada
Talvez por desinformação ou por não procurarem filtrar melhor as notícias que a imprensa divulga, boa parte da população tem comprado essa briga, como tudo que se noticia fosse uma verdade absoluta. Nem ao menos cogitam pesquisar sobre a veracidade da notícia e correm para compartilhá-lha nas redes sociais sem realizarem a mínima reflexão a respeito. Muito menos lhes passa pela cabeça a hipótese de que a informação pode estar sendo manipulada ou ampliada em sua real magnitude para influenciar na formação da opinião pública. Não correlacionam, por exemplo, o fato de que aproximadamente 70% da mídia brasileira faz oposição ao governo e alimenta ódio ao PT, desde que Lula se tornou presidente em 2003.
É imperioso dizer que o Brasil tem uma imprensa com grandes jornais dirigidos por famílias e essa imprensa é de direita. Entretanto a afirmação, que tem sido vinculada por blogueiros na internet, de que não houve interesse da esquerda em criar veículos de informação não merece crédito, tendo em vista publicações como a Carta Maior, CartaCapital, Caros Amigos, Brasil de Fato, revista piauí, dentre outras, que a despeito de não serem grandes veículos, representam o pensamento de esquerda brasileiro. Talvez o pecado do governo seja não ter se atentado a isso no sentido de fortalecer os veículos que o apoiam.
Na maioria das bancas de jornais mineiras, por exemplo, as opções de publicações que o leitor tem à sua disposição pertencem em sua maioria aos mesmos grupos que são opositores às políticas do Palácio do Planalto. Como exemplo, em Minas Gerais os Diários Associados são donos dos jornais Estado de Minas e Aqui, além da TV Alterosa e Rádio Itatiaia, todos alinhados à política oposicionista. Seu principal concorrente é o jornal O Tempo, que engloba também o Super Notícia e pertence a Vittorio Medioli, ex-deputado federal pelo PV e ex-membro do PSDB. Ou seja, fogo amigo.
Quanto aos jornais e revistas de circulação nacional, é de conhecimento que a Folha de S.Paulo, o Globo, as revistas Veja e Época fazem oposição ferrenha ao governo e ainda a IstoÉ está mais pra direita do que em cima do muro, como querem fazer parecer. Quanto aos canais de TV, então, não há o que dizer. Rede Globo, Band, SBT… todos no mesmo barco. Tirando isso, o que sobra? A TV Record?…
Por tudo isso é necessário enxergarmos o cenário atual com um olhar mais crítico, já que existe muita informação desencontrada por aí. Ou será mesmo que a notícia que essa imprensa veicula é de fato isenta como gosta de profetizar William Bonner e seus asseclas no JN?
Lei da Mídia Democrática
Já a proposta do governo de propor a regulação da mídia esbarra em diversos interesses contrários, sob o argumento de que ela fere a liberdade de imprensa e configura-se como um tipo de censura. O deputado Eduardo Cunha, eleito recentemente presidente da Câmara, pôs as cartas na mesa já no seu discurso de posse, deixando claro que Dilma terá enorme dificuldade em aprovar essa e outras questões: “Aborto e regulação da mídia só serão votados passando por cima do meu cadáver”, disse o deputado.
Nesse cenário, uma boa iniciativa é o formulário online de apoio ao Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Comunicação Social Eletrônica, conhecido como Lei da Mídia Democrática que visa “regulamentar os Arts. 5, 21, 220, 221, 222 e 223 da Constituição Federal. Entre os principais dispositivos estão a criação do Conselho Nacional de Comunicação e do Fundo Nacional de Comunicação Pública, veto à propriedade de emissoras de rádio e TV por políticos, proibição do aluguel de espaços da grade de programação e a definição de regras para impedir a formação de monopólio e a propriedade cruzada dos meios de comunicação, entre outros pontos” (fonte: http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/).
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Marcelo Antônio Rocha de Oliveira é administrador e especialista em Gestão Empresarial, servidor público e blogueiro