O Yahoo! e a Reuters deram início, esta semana, a seu projeto de estimular milhões de cidadãos comuns a se tornar fotojornalistas. A partir de terça-feira (5/12), passaram a ser divulgados no sítio da agência de notícias e na página de notícias do Yahoo! vídeos e fotografias (de interesse jornalístico, é claro) enviados pelo público.
A Reuters anunciou ainda que pretende, a partir de 2007, começar a distribuir algumas das imagens enviadas para seus milhares de veículos assinantes nas plataformas impressa, televisiva e online. ‘Há uma demanda crescente por imagens interessantes e icônicas’, diz Chris Aheam, presidente da agência. Segundo ele, a Reuters já compra há tempos imagens de fotógrafos amadores que simplesmente estavam no lugar certo na hora certa – e com uma câmera digital na mão.
A diferença é que agora há um plano estabelecido para aumentar estas contribuições. O projeto está entre os mais ambiciosos de uma tendência que ficou conhecida como jornalismo-cidadão – onde a idéia é transformar espectadores em repórteres. A blogosfera está cheia de exemplos, e grandes organizações como a CNN e a BBC passaram a aceitar contribuições do público. A tendência se mostrou fortalecida em incidentes como a tsunami na Ásia no fim de 2004 e, com maior intensidade, nos atentados ao sistema de transporte público em Londres, no ano passado. Imagens feitas por passageiros de dentro do metrô londrino poucos minutos após as explosões foram parar nas primeiras páginas de jornais em todo o mundo.
O próprio Yahoo! afirma já ter usado imagens postadas originalmente no serviço de compartilhamento de fotografias Flickr. Após o golpe na Tailândia, em setembro, a divisão de notícias do portal montou um slide show com fotos deste tipo.
Celular indiscreto
Cada vez menores, câmeras digitais passaram a ser carregadas para todos os lados. Mais práticas ainda são as embutidas nos telefones celulares. Há algumas semanas, pegou mal um piti racista protagonizado pelo ator americano Michael Richards, que ficou famoso com o personagem Kramer do seriado Seinfeld. Ao responder grosseiramente e de maneira preconceituosa a espectadores de um show que apresentava, Richards foi filmado por uma câmera de celular e, em questão de horas, o vídeo estava na internet.
Pela parceria do Yahoo! com a Reuters, os internautas postam fotos e vídeos em uma seção do Yahoo! chamada You Witness News. Todas as imagens enviadas irão aparecer no Flickr ou em um sítio similar para vídeos, e editores das duas organizações irão revisar e selecionar o material que será colocado em páginas junto com artigos jornalísticos.
‘As pessoas não dizem que querem ver conteúdo gerado por internautas’, diz Lloyd Brown, diretor do Yahoo!. ‘Elas querem ver [o piti do] Michael Richards. Se acontecer de a imagem ser de um telefone celular, elas estarão felizes. Se for de um cinegrafista profissional, estarão satisfeitas também’, explica.
Anti-fraude
Os fotojornalistas-cidadãos não serão pagos pelas imagens postadas nos sítios da Reuters e Yahoo!. Mas as pessoas cujas fotos ou vídeos forem selecionados para distribuição aos clientes da agência de notícias serão remunerados.
Para (tentar) evitar fraudes, fotos e vídeos selecionados serão vistoriados cuidadosamente. Os editores de fotografia da Reuters tentarão descobrir fotos forjadas ou imagens retocadas por computador. Evidentemente, o processo não é 100% seguro. Casos como o do blogueiro que descobriu que supostas fotos do conflito no Líbano tiradas por um fotógrafo freelancer da Reuters haviam sido digitalmente alteradas são prova disso. Na ocasião, a companhia dispensou de vez o profissional e retirou todo seu trabalho anterior do banco de imagens. Ela tenta agora desenvolver um software que ajude a detectar imagens alteradas. Informações de Saul Hansell [The New York Times, 4/12/06].