Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Morre colunista de mídia do ‘NYT’

Morreu na noite de quinta-feira [12/2], aos 58 anos, o jornalista americano David Carr, colunista de mídia do New York Times. Ele foi encontrado desacordado na redação do jornal. Levado ao hospital, não resistiu. A autópsia revelou que Carr foi vítima de um agressivo câncer no pulmão associado a problemas cardíacos.

“Ele era nosso maior campeão”, afirmou, em um email à equipe, o editor-executivo do diário, Dean Baquet. “Sua paixão sem fim pelo jornalismo e pela verdade serão sentidas por sua família no Times, por seus leitores em todo o mundo e pelas pessoas que amam o jornalismo”.

Carr tornou-se famoso ao roubar a cena no documentário Page One: Inside The New York Times, de 2011. Seu jeito sincero e direto tanto para abordar os temas que cobria quanto para tratar da própria vida o tornavam uma figura fascinante. O jornalista contou sobre sua relação com as drogas e o álcool na biografia The Night of the Gun, lançada em 2008. Carr foi viciado em cocaínano fim da década de 80, quando vivia com uma traficante que era também a mãe de suas filhas gêmeas. Poucos meses depois do nascimento das meninas, ele entrou em um programa de reabilitação. “Hoje eu sou uma pessoa genuína, frequentemente agradável. Eu trabalho duro para uma organização respeitável e tenho, com o passar do tempo, provado ser um pai e marido atencioso”, escreveu no livro. Carr deixa sua mulher, Jill Rooney Carr, e três filhas.

Olhar certeiro

No Times, em sua coluna “The Media Equation” e em artigos, ele escrevia sobre uma variedade de questões midiáticas com olhar crítico e certeiro. Para Dean Baquet, Carr era “o melhor repórter de mídia de sua geração”.

Poucos dias antes de sua morte, o jornalista escreveu sobre a revelação de que o âncora Brian Williams, da NBC, havia mentido em seu relato sobre estar em um helicóptero abatido na guerra do Iraque, em 2003. “Nós queremos que nossos âncoras sejam bons em ler as notícias e também finjam que estão no meio delas”, sentenciou. “É por isso que, quando as forças do homem ou da Mãe Natureza provocam ocaos, as emissoras sentem-se obrigadasa enviar todo o seu aparato às partes mais distantes do mundo, com um âncora à frente. Queremos que nossos âncoras estejam em todo lugar, sejam impossivelmente famosos, viajados, hilários, pés no chão e, acima de tudo, confiáveis. É uma descrição de emprego a que ninguém consegue corresponder”.

Na noite de sua morte, Carr havia moderado um debate sobre o documentário Citizenfour, sobre Edward Snowden, em que participaram a diretora do filme, Laura Poitras, e o jornalista Glenn Greenwald, primeiro a publicar as informações vazadas pelo ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional americana. O próprio Snowden participou da conversa por um link de vídeo direto da Rússia, onde vive.

No fim do debate, Carr dirigiu-se a Snowden. “Eu tenho que falar pelasmães na plateia por um segundo”, afirmou. “Você está na Rússia. Você está se alimentando bem? A comida é boa?”, perguntou, levando o público às gargalhadas. “Este era o David Carr clássico. Inesperado,empático, engraçado”, avalia o jornalista Ed Pilkington, do Guardian.

Em declaração, o publisher e presidente do Times, Arthur Ochs Sulzberger Jr., afirmou que Carr, no diário desde 2002, “era um dos mais talentososjornalistas” que já passaram por ali.