Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O déficit educacional secundário

“Educação pública nunca resolve o difícil problema do desenvolvimento”, Seguindo Honoré de Balzac, o genial escritor francês, autor de 95 romances e agudas observações psicológicas e filosóficas, pode-se dizer que o maior problema do Brasil não é o superávit primário, mas o déficit educacional secundário. Seus reflexos comprometem o presente e condenam o futuro ao fracasso. Um deles é o baixo índice de leitura de livros e jornais, que frustra sonhos, anula esperanças e elimina ilusões.

Embora o Brasil seja um celeiro de escritores famosos, celebrados internacionalmente, como Gonçalves Dias, José Alencar, Rachel de Queiroz, Câmara Cascudo, José Américo de Almeida, Augusto dos Anjos, José Lins do Rego, Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Paulo Freire, Graciliano Ramos, Tobias Barreto, Castro Alves, Jorge Amado, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Nelson Rodrigues, Eduardo Portella, Mário de Andrade, Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Cora Coralina, Érico Veríssimo e Mário Quintana, é um país de poucas livrarias e pouca leitura.

De acordo com a Associação Nacional de Livrarias (ANL) existem no Brasil 2.680 livrarias. É pouco para o tamanho do Brasil e sua população de 200 milhões de habitantes. Só Paris, capital literária mundial, tem 800 livrarias. Só Buenos Aires, capital cultural da América do Sul, tem 600 livrarias. O francês lê muito, o argentino lê muito. Segundo o estudo da ANL, o brasileiro lê apenas 1,9 livro por ano. Miséria de leitura.

Pesquisa recente do Instituto Meta, aplicada em 12 mil domicílios de 539 municípios em todos os estados, identificou que 46,1% dos brasileiros costumam ler jornais. Desses, 42,3% consideram o domingo o dia mais importante da semana para leitura de jornal, enquanto 30,6% apontam a segunda-feira. Apenas 11,4% da população costumam ler jornal diariamente. O mais elevado percentual de leitores de jornal está no Sul (54,1%) e no Sudeste (52,7%) e o mais baixo está no Nordeste (27,7%), onde é maior a pobreza.

Esses índices estão diretamente relacionados aos níveis de educação e de renda. Quando mais educação maior renda e quanto maiores os níveis de educação e de renda, maior o índice de leitura. Pelo mesmo estudo, o principal canal de informação da população brasileira é a televisão (96,6%). Mas seguindo uma tendência mundial, 46,1% dos brasileiros já se informam pela Internet com 20,9 horas semanais de navegação. Este índice sobe para 79,9% entre os usuários de renda mais alta que chegam a navegar mais de 23 horas semanais.

Quanto mais tempo os brasileiros acessam a internet, menos tempo dedicam à leitura de jornais. Já está esquecido o bom slogan de O Globo durante muitos anos: “Quem lê jornal sabe mais”. Era uma adaptação de pensamento de Machado de Assis, “leia mais para ser mais”. Quem lê menos, torna-se menos na sociedade. É um problema sério que afeta, sobretudo, a formação dos mais jovens.

A falta de educação

Essa geração está crescendo informada apenas superficialmente, o que impede a formação de opinião e a tomada de atitude. “É possível guardar na mente um milhão de fatos e ainda assim ser totalmente sem educação”, ensina Aleck Boume, médico e escritor britânico. Por isso, pesa o déficit educacional, o mais grave problema brasileiro nem sempre assim entendido, exatamente pela falta de consciência resultante da falta de educação, como já alertou o escritor, educador e pensador Cristovam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília: “O Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo no futebol e ficou triste. É 85º em educação e não há tristeza. É o conformismo da ignorância.”

Falta ao Brasil subdesenvolvido ou emergente o que é prioridade absoluta no desenvolvido Japão de 128 milhões de habitantes: educação. Daí o alto índice de leitura de jornais entre os japoneses. Dos 10 maiores diários do mundo, atualmente, os primeiros cinco são do Japão: Yomiuri Shimbun, Asahi Shimbun, Mainichi Shimbun, Nikkei Shimbun e Chunichi Shimbun. Somente o invejável Yomiuri tem 14,4 milhões de exemplares diários (10,2 milhões matinais e 4,2 milhões vespertinos) quase o dobro da tiragem dos 652 diários brasileiros juntos, com 8,3 milhões de exemplares segundo a Associação Nacional de Jornais. Na América do Sul, infelizmente, não há nenhum jornal com tiragem de 1 milhão de exemplares. Nosso maior jornal, a Folha de S.Paulo, tem apenas 330 mil exemplares. Uma vergonha!

Dessa forma, no Brasil, além da internet avassaladora e devastadora, que está asfixiando a mídia impressa, o que contribui muito para a crise dos jornais é a falta de educação, responsável pelo baixíssimo índice de leitura. Mais investimento em educação e mais incentivo à leitura podem fazer a grande diferença, como prova o Japão. E falta ao Brasil seguir fervorosamente o educador Paulo Freire: “Só a educação faz a transformação e gera o salto de qualidade de uma Nação”. Do contrário, balzaquianamente, todas as ilusões estarão perdidas.

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Jota Alcides é jornalista e escritor