Há exatos dez anos, Chad Hurley, Steve Chen, e Jawed Karim, à época funcionários do PayPal, registravam o domínio youtube.com.
Muitos virais e atritos com estúdios de cinema e emissoras de televisão depois, o YouTube parece se conciliar com Hollywood por meio das “networks” –redes que agregam diversos canais, oferecendo suporte em troca de parte da receita ganha com publicidade.
A primeira versão do site de compartilhamento de vídeos foi ao ar em maio de 2005. Pouco mais de um ano depois, em outubro de 2006, o Google comprou a plataforma por US$ 1,65 bilhão.
Embora a companhia sediada em Mountain View, na Califórnia, não revele o rendimento de cada um de seus produtos, o site “The Information” reportou que o lucro bruto do YouTube em 2013 foi de US$ 3,5 bilhões –quase 7% do lucro total do Google.
De olho nesse mercado e no alcance dos produtores de conteúdo do site, que diz gerar hoje “bilhões de visualizações por dia”, surgiram as redes multicanais, ou “networks”.
Elas oferecem apoio aos produtores em áreas como programação, financiamento e audiência em troca de um percentual sobre seu rendimento. Geralmente, recrutam candidatos, mas algumas permitem que interessados se inscrevam para participar.
Até mesmo gigantes de Hollywood se renderam às redes, enxergando um meio de operar e lucrar no YouTube. Em março de 2014, a Warner Bros. investiu US$ 18 milhões na Machinima, rede especializada em games que tem mais de 14 mil membros.
Em abril do mesmo ano, a Walt Disney comprou a “network” Maker Studios por US$ 500 milhões, valor que pode chegar a US$ 950 milhões se o grupo bater certas metas financeiras. Faz parte da Maker o canal e games PewDiePie, o mais popular do YouTube, com 34,4 milhões de inscritos e mais de 7 bilhões de visualizações.
Brasil
Em termos de visualizações, os Estados Unidos são o único país que supera o Brasil no YouTube. “Temos o segundo maior volume de acessos do mundo”, afirma André Barros, cofundador e presidente-executivo da Network Brasil (NWB). “São 68 milhões de brasileiros vendo vídeos on-line.”
O potencial do mercado brasileiro para as “networks” foi percebido pela NWB. Fundada no ano passado, a empresa já recebeu injeção de capital dos fundos de investimentos Joá, do qual faz parte o apresentador de TV Luciano Huck, e e.Bricks,
Para Barros, os meios digitais já deixaram de ser a segunda tela para se tornarem a primeira. “Nos últimos anos, a audiência tem migrado em massa da TV para a internet. E as marcas, os anunciantes, têm de ir aonde o consumidor está.”
O canal mais popular da rede é o Desimpedidos, mescla de futebol e humor que soma mais de 485 mil inscritos e 56 milhões de visualizações. Outros temas como surfe, educação e games também entram no portfólio de sete canais da NWB, ainda pequeno e seleto. “Somos novos, mas o mercado também é”, diz ele.
Cautela e seletividade também são a estratégia da Amazing Pixel, criada em outubro de 2013. A ideia partiu do próprio YouTube, que procurou os produtores Alexandre Ottoni, 35, e Deive Pazos, 29, do canal popular de cultura geek Jovem Nerd.
“Várias ‘networks’ estrangeiras já tinham abordado o Alexandre e o Deive, mas eles tinham o sentimento de que elas tomavam parte da receita dos canais em troca de nada significativo. Existia toda uma insatisfação quando nós começamos”, afirma o sócio Gustavo Mafra, 36.
Ele cita como exemplo o caso do Porta dos Fundos, que fez parte da Fullscreen em 2010 mas saiu apenas seis meses depois.
O faturamento da Amazing Pixel em 2014 foi de R$ 3 milhões. O percentual da receita de publicidade que fica com a network é avaliado caso a caso.
A rede de 11 canais –além do Jovem Nerd, faz parte da rede o Jacaré Banguela, de vídeos de humor– planeja expandir para cem membros em 2015.
Os critérios para integrar a rede são o potencial comercial do canal e se ele pode ser aprimorado. “Há canais que nós sabemos que se viram sozinhos. O que queremos é fazer negócios onde todos saiam ganhando”, afirma Mafra.
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Anderson Leonardo e Fernanda Perrin, da Folha de S.Paulo