Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O potencial da internet na difusão da informação

No país do futuro, terra do carnaval e do futebol, das paisagens exuberantes e da miscigenação cultural, o clima está cada vez mais quente. Também no termômetro, é verdade, mas principalmente devido às cada vez mais acaloradas discussões políticas. Nas redes sociais, então, como se diz no popular, “o bicho tá pegando”.

Passado pouco mais de três meses do pleito eleitoral, muitos ainda parecem se ressentir dos resultados das urnas. A oposição derrotada têm procurado muitas formas de desestabilizar o governo, que mal começou o seu mandato (e não começou bem, diga-se). Nesse cenário, o escândalo de corrupção na Petrobras passa a ser a principal munição da oposição para desmobilizar o governo e atrair para si as atenções.

Destarte, é interessante refletir sobre algumas coisas. Uma delas é constatar que a corrupção na estatal não é um factoide criado pela oposição. Não se pode perder isso de vista. A corrupção é um fato e precisa ser combatida e noticiada. Nesse aspecto, aliás, o governo peca por não se posicionar de forma mais firme, chamando para si a responsabilidade das investigações e deixando claro para todos os cidadãos que deseja combater os desvios. Mas, não. Prefere deixar a coisa correr solta, a título de preservar a autonomia da Polícia Federal. Um erro, pois isso pode dar a impressão de que a corrupção é muito pior do que se imagina, além de deixar lacunas, até agora muito bem aproveitadas pela oposição e pelos seus aliados midiáticos.

E ainda, não menos importante, é dizer que o Brasil está, sim, passando por uma crise e os cidadãos, de maneira geral, sabem que ela existe. O que não se sabe ao certo é o real tamanho dela. Certo é que o governo precisa que boas notícias apareçam para esboçar uma reação. Será a crise outra “marolinha”, como no tempo do governo Lula, ou dessa vez será como um “tsunami”? Quem sabe ao certo? O tempo dirá…

O poder da informação na rede

Um olhar mais atento nos revela que tem muita gente por aí comprando os discursos, seja do governo ou da oposição, sem nenhuma reflexão a respeito. Na internet, e principalmente nas redes sociais, chovem frases e imagens de efeito, com manchetes bombásticas com o propósito de influenciar a opinião pública. Ocorre que, infelizmente, boa parte delas carece de conteúdo e argumentos convincentes e muitos internautas estão mordendo a “isca” e, antes mesmo de procurarem se inteirar do assunto, as compartilham nas redes sociais, criando um efeito multiplicador inimaginável até pouco tempo atrás.

Nesse contexto, informar-se mais e melhor é condição sine qua non para o cidadão brasileiro, caso ele deseje que um dia tenhamos um país melhor. O primeiro passo para alcançarmos isso, sem dúvida, é a educação [é interessante fazer um aparte a respeito da pesquisa nos periódicos científicos nacionais e internacionais nas grandes universidades brasileiras, que pecam por não incentivarem seus alunos – já a partir da graduação e não somente alguns privilegiados que conseguem realizar uma iniciação científica ou ainda os que conseguem adentrar nos cursos de mestrado – a utilizar como principal fonte de pesquisa os grandes portais de publicação de periódicos e revistas nacionais e internacionais estão disponíveis em diferentes bases e portais científicos na web, como os periódicos da Capes, a Web of science, o Scientific Direct, Google Scoolar, só para citar os mais conhecidos. Ao se prenderem somente no conteúdo dos livros, os alunos desperdiçam a oportunidade de lidar desde cedo com a “nata” da informação mundial a respeito das suas áreas de estudo, ou seja, o que há de mais novo e atual, conhecida no meio acadêmico como “o estado da arte da ciência”. Para quem não sabe, o acesso a esses portais não é gratuito. O governo brasileiro paga e bem caro pela assinatura anual desses conteúdos. É sabido que as universidades federais têm acesso a elas. Mas, a quem interessa ou não incentivar o seu uso ou o compartilhamento dessa grande fonte de informações é matéria para outro artigo]. Sem ela, não vamos a lugar algum.

Para além disso – fora do espectro acadêmico –, a ferramenta que se destaca perante as demais é a internet, que é hoje a melhor opção para o cidadão que desejar se informar. Isso é claro, tomando-se alguns cuidados. A internet, aliás, tem se revelado um contraponto à forma tradicional de se fazer jornalismo e divulgar notícias. Diante das manchetes que nos bombardeiam a todo momento, a web desponta como o ambiente onde o indivíduo pode selecionar a notícia que deseja ler, realizar os seus questionamentos, pesquisar, comparar e descobrir se aquilo que leu ou viu na TV, na manchete do jornal/revista pode ser tratado como verdade ou não. Fazendo este caminho, fugindo do supérfluo e se aprofundando em questões mais importantes, o cidadão pode formar a sua opinião de forma mais autônoma e reunir melhores condições para discernir entre a verdade e a notícia forjada, em meio ao “mar” de informações desencontradas que se tornou a rede e que a mídia ajuda a propagar diariamente.

A torcida partidária

Outrossim, é urgente para nós brasileiros retirarmos as vendas que estão tapando nossa visão, pois enquanto os eleitores fazem propaganda gratuita para os seus “times” nas redes sociais, o Brasil está ficando pra trás, esquecido. Precisamos pensar no país, reacender o espírito nacionalista, deixar de achar que tudo está errado e que não há solução. Ora, política não é futebol. As eleições já passaram há algum tempo e não podemos ficar só na arquibancada, apenas torcendo. Defender as legendas partidárias cegamente é um grande erro. Somos uma nação e fazemos parte dela, nosso partido deve se chamar Brasil. Afinal, como já dizia Gonzaguinha, meu poeta predileto: “…nem tudo apodrecido de modo que se possa dizer nada presta, nem todos derrotados, de modo que não dê para se fazer uma festa…”

Uns podem dizer que esse é um discurso ufanista. Mas, não se trata disso, absolutamente. A questão é que não podemos nos deixar levar pelas ondas de manipulação da informação. Precisamos formar nossa opinião de maneira mais isenta e sensata possível e ir além do senso comum. Além disso, termos em mente que, uma vez eleitos, os políticos nos devem prestar contas, independente se o meu voto foi ou não a seu favor nas eleições. Da mesma forma, precisamos fazer a nossa parte para construirmos um lugar melhor para os nosso filhos e netos, nos mexer e nos tornarmos protagonistas das mudanças que o Brasil precisa realizar.

Cidadania e democracia

Por fim, é preciso falar em defesa da democracia. Não se pode falar em golpe ou impeachment a essa altura do campeonato. Golpismo ou não da mídia, o fato é que isso não é concebível nesse momento. O Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho para solidificar a sua democracia e podemos afirmar que os direitos políticos ainda não estão plenamente consolidados por aqui.

Desde a abertura política, de 1986 até hoje, tivemos somente sete eleições para presidente da República (em 25 anos – contando da primeira, realizada em 1989), eleitos através do voto direto, secreto e com ampla participação do eleitorado, sendo três reeleições, totalizando apenas quatro presidentes diferentes. E, já na primeira, o eleito foi deposto do cargo. Nas demais assistimos à polarização PT-PSDB, que, aliás, parece já estar com prazo de validade vencida.

A título de comparação, a Europa demorou quase três séculos para que os cidadãos pudessem gozar da cidadania de forma plena. O sociólogo alemão T.H. Marshall argumenta que, na Europa Ocidental, houve uma conquista gradual e consecutiva de direitos. O primeiro deles teria sido o Direito Civil, no século 18; o Direito Político teria vindo a seguir, no século 19; e, por fim, o Direito Social, durante o século 20. O somatório dessas três conquistas (Direitos Civil, Político e Social) resultaria no que consideramos como Cidadania. Porém, os direitos políticos na Europa só foram de fato consolidados no pós-guerra, quase 150 anos após as revoluções francesa e industrial (no Reino Unido) que possibilitaram a conquista dos direitos civis pela população.

Impitiman é meuzovo

No Brasil as coisas se deram na ordem inversa: primeiro vieram os direitos sociais no governo Getúlio Vargas (e não como uma conquista do povo, mas como uma concessão do governo). Pouco depois disso, atravessamos uma ditadura que durou mais de vinte anos e, somente em 1989, pudemos falar de direitos do cidadão com a promulgação da Constituição Federal. Por esses motivos, creio que a conquista da cidadania por aqui ainda é um processo em andamento.

Em meio a toda essa agitação, um vídeo tornou-se um viral nas redes sociais. Nele, foliões aproveitaram a deixa para protestarem contra a campanha que pede o impeachment da presidente Dilma. Enquanto o repórter da afiliada da TV Globo cobria o carnaval em Fortaleza/CE, alguns jovens invadiram o link ao vivo com cartazes com a inscrição: “Impitiman é meuzovo”. O protesto bem humorado já virou até meme nas redes sociais e a hashtag #ImpitimanEmeuZovo chegou a ocupar os trending topics mundiais no Twitter no sábado, 14 de fevereiro.

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Marcelo Antônio Rocha de Oliveira é servidor público federal