Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jovem Pan entrevista prefeito de São Paulo

A entrevista concedida pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ao Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan na quinta-feira (12/2, ver aqui) revela não apenas a fragilidade do jornalismo de mão única, que na pressa das acusações revela-se desinformado, como também a má vontade de alguns canais de comunicação em entender um pouco mais sobre a cidade que cobrem.

A insistência dos entrevistadores – o historiador Marco Antonio Villa e os jornalistas Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto – em degradar ainda mais a imagem da cidade, que já não anda das melhores diante dos problemas que competem à administração pública (inclui-se aqui prefeitura e governo estadual), parece não fomentar um debate que oriente o público ouvinte na compreensão das urgências e das possíveis soluções para a cidade.

Sorte desse ouvinte que o prefeito explicou, muitas vezes de maneira quase didática, alguns dos principais problemas da cidade, bem como as soluções que, segundo ele, estão em curso. Utilizando-se muito bem da retórica que tem, Haddad driblou algumas questões que poderiam depor contra a popularidade da prefeitura – por exemplo, quando os entrevistadores tentavam focar o assunto na corrupção do PT. Estrategicamente, quando isso acontecia, o prefeito conduzia o assunto de volta à prefeitura de São Paulo, que é o que de fato lhe compete como administrador público, para não cair naquelas manobras tendenciosas de jornalistas que imprimem o tom da entrevista de acordo com expressões que fazem repetir até ecoar na cabeça do espectador-ouvinte.

Nem tudo ficou esclarecido na fala do prefeito. Mas ele falou com desenvoltura, segurança e demonstrou muito conhecimento da cidade e seus problemas. Mostrou também disposição em dialogar e projetos que já dialogam com a cidade, incluindo setores marginalizados – nesse momento, Haddad fez aparecerem os preconceitos que se dissimulam nas entrelinhas do jornalismo que o ataca.

Notem bem, não falo aqui de todo jornalismo que se oponha aos governos. Que fique bem claro, é imprescindível que o jornalismo faça oposição. Mas falo, sim, do jornalismo que se disfarça de defensor do interesse público para fazer apenas oposição partidária. E foi esse que sucumbiu na entrevista com o prefeito. E sucumbiu porque é ruim, mal feito. Poderíamos ter jornalismo de oposição muito mais inteligente, que se fiasse mesmo na dimensão dos problemas e nas urgências da cidade sem a obsessão pelos pleitos eleitorais de dois em dois anos.

Rachel Sheherazade, jornalista conhecida por sua retórica e boa aceitação do público, não mede esforços em seus editoriais e comentários para deixar claro quem, em sua opinião, é o inimigo público a ser combatido. E o prefeito de São Paulo estaria bem próximo desse grupo que a âncora do SBT elegeu como inimigo da nação. Porém, quando diante de uma voz que também volta – ou seja, quando se fala não apenas para uma câmera sem se expor ao debate –, a desenvoltura da jornalista que tão habilmente conquista a opinião pública praticamente serviu de figuração na sabatina.

Quando repercutiram conversas e opiniões sobre um possível afastamento da jornalista em função de declarações acerca do que na época chamou-se (na minha forma de entender, um termo absolutamente inadequado) de “justiça com as próprias mãos”, lembro de ter conversado com amigos e alunos sobre o retrocesso que seria impor silêncio a ela ou a qualquer jornalista que se oponha aos governos. Porém, lembro também de ter dito que, tendo em vista os teores e a repercussão de sua fala, que a mídia se preocupasse em fomentar debates acerca das falas; que as ideias e falas que polemizam com os direitos humanos fossem confrontadas em debate, mas nunca pelo viés do silenciamento. Quem ganharia com isso seria a população, que passaria a ouvir lados opostos, retóricas opostas, interesses opostos.

Uma das coisas que por fim também ficou evidente na entrevista do prefeito à Jovem Pan foi que, quando confrontado em debate, e não em canal de mão única, o jornalismo exageradamente parcial tropeça em sua própria ânsia e perde preciosas oportunidades de fazer oposição.

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Cristiano de Sales é professor de Comunicação Social