Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Pequenos com grandes desafios

Os veículos de imprensa tidos como pequenos têm entre seus desafios uma classificação ingrata: pequenos. Em uma situação em que nem a gramática ajuda, já que são poucos os sinônimos para enquadrar os jornais que não estão entre os gigantes da mídia nacional, a parte da imprensa que mantém um trabalho regional é obrigada a lidar com grandes desafios (alguns enormes).

Na mídia regional, que não sustenta uma pauta ligada a operações da Polícia Federal, aos passos do Senado e da Câmara, ao mundo de Brasília ou a reportagens de diversos Estados, o que ganha relevância é a vigilância sobre os poderes públicos em esfera municipal e sobre as condições dos serviços – que são direitos de contribuintes –, como o buraco na porta da casa de um trabalhador comum. Buraco que até pode render uma boa história se o trabalhador for um mecânico que aproveitar a falha na via pública para ganhar mais com o conserto de carros estragados.

Contudo, a situação da “pequena imprensa” não se limita apenas a uma pauta de natureza diferente. Ela também se vê forçada a lidar com questões conceituais, como os rumos e definições do que é Jornalismo, além de previsões apocalípticas quanto ao futuro do impresso. Isso sem citar reflexões quase que diárias para conter ou minimizar pressões ou influências externas que poderiam ‘macular’ um trabalho de reportagem. Por último, e com certeza não menos importante, há os problemas financeiros e as dificuldades na geração de receita.

Se os “grandes” possuem o glamour e alimentam a expectativa, que venham deles proposições sobre o que será do ramo. Aos pequenos cabe a necessidade de dar a seus investidores e leitores razões para continuarem fiéis.

Pequenos? Mesmo?

Liberdade de imprensa, de expressão, ética, profissionalismo e respeito são todas características naturais da democracia. Assim, em um país de regime democrático, espera-se que essas características sejam inerentes, praticadas e defendidas em qualquer atividade exercida.

Cumprir apenas parte desse compromisso, ou rejeitá-lo por inteiro, torna qualquer instituição, pública ou privada, não somente incoerente como também estéril de qualquer possibilidade de qualidade e credibilidade, seja ela grande ou pequena.

Se em parte o esforço dos pequenos é voltado às questões de ordem financeira, diante da necessidade de se reinventar, outras problemáticas como as comerciais e conceituais não são um luxo dos grandes.

Pontua-se aqui que não cabe medir quem sofre mais (grandes ou pequenos) ou quem merece mais respeito. Ambos estão cercados dos mesmos desafios e demandam o mesmo tratamento. Apesar da obviedade desse alerta, é preciso salientá-lo para que a reflexão não se perca por viés infrutífero.

A importância dos jornais regionais, de modo capilar em cada canto do Brasil, se dá em levar diariamente a seus leitores anseios e realidades de um país com proporções continentais. Aos pequenos se deve, no mínimo, a missão de criar espaços, fóruns e atividades que fomentem diálogos, discussões e reflexões que tragam novos horizontes ou esperança de dias melhores.

O jornal impresso merece ser respeitado. Em março de 2014, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) divulgou pesquisa indicando que os jornais impressos brasileiros apresentam informações com maior nível de confiança se comparados a outros meios de comunicação. 

Segundo O Estado de S.Paulo, os resultados demonstraram que 53% dos entrevistados que usam jornal impresso afirmaram confiar sempre ou muitas vezes nas notícias veiculadas, contra 50% no rádio, 49% na televisão e 40% em revistas. A pesquisa também questionou as pessoas sobre a confiabilidade em propagandas veiculadas em diferentes meios de comunicação e, novamente, os jornais impressos foram considerados os mais confiáveis por 47% dos entrevistados. 

O levantamento foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), contratado por meio de licitação. O instituto ouviu 18.312 pessoas, em 848 municípios, entre os dias 12 de outubro e 6 de novembro de 2013, com o objetivo de subsidiar a elaboração da política de comunicação do Executivo federal. 

O cotidiano de jornais pequenos é conviver com grandes desafios. Por isso mesmo se pode questionar até sua classificação: pequenos?

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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista e está editor do jornal Imprensa Livre, no litoral norte do estado de São Paulo