Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cobertura cobra ‘humildade’

Na manchete do site Sensacionalista, no final do domingo [15/3] de protesto, “Polícia Militar de São Paulo já fala em 7 bilhões de pessoas na avenida Paulista”.

Rede Globo e GloboNews, sem humor e sem qualquer filtro, assim como outras emissoras de TV e rádio e portais, haviam reproduzido –e defendido– ao longo da tarde as estimativas exponenciais da PM paulista.

O animador Fausto Silva usou ao abrir o “Domingão”. Cléber Machado também, durante a transmissão de São Paulo vs. Ponte.

O narrador anotou, aliás, que “os movimentos que organizam a manifestação concordam com a estimativa dada pela polícia”, uma concordância incomum.

Durante o protesto, ao vivo pelo canal de notícias, os manifestantes fizeram mais –desde cantar “Polícia! Polícia! Polícia!” até posar para fotos com soldados e tanques da Tropa de Choque.

E não foram só Globo e outros meios nacionais. A agência Reuters espalhou o milhão mundo afora, inclusive o jornal “The New York Times”.

O “NYT”, que depois tratou de postar texto próprio, vendo “centenas de milhares” no país todo, sob o enunciado “Raiva borbulha contra presidente brasileira”, no alto da home, com foto.

Mesma linha

No fim das contas, o número era um quinto da estimativa da polícia, mas foi a maior mobilização em São Paulo desde as Diretas Já. Comentários e posts nem precisaram recuar do que haviam cobrado ao longo do dia.

Faustão, em aparente editorial, foi quem resumiu o que foi falado antes e depois: “Serve de alerta para que o governo tome providências, tenha humildade”.

Acrescentou até que o governo poderia “virar o jogo”. Entre outros, o comentarista Kennedy Alencar, em entrada ao vivo no SBT, sugeriu resposta semelhante.

Mas vieram então os dois ministros falar por Dilma Rousseff e, via GloboNews, rádios e sites, não demonstraram “humildade”, não no nível que era esperado, ao menos. Resultado, mais um panelaço na cidade, ecoando pelas redes sociais.

Na reação da comentarista Renata Lo Prete no canal de notícias, imediatamente depois: “O governo não reconhece nenhuma necessidade de correção de rumo”.

José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) até “começaram a entrevista num tom um pouco mais humilde, refletindo o recado da rua”, mas logo voltaram atrás.

Já na CBN, rádio da Globo, Kennedy Alencar foi pela mesma linha, avaliando que a resposta dos ministros, já conhecida e gasta, foi só “para ganhar tempo”.

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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo