Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Censura é inédita na era democrática

“O controle de meios de comunicação e o aumento da censura na Venezuela, denunciados em um relatório divulgado na segunda-feira pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), foram confirmados por especialistas no tema.” Na opinião de Silvia Alegrett, que foi presidente do Colégio Nacional de Jornalistas (CNP) e hoje está à frente da ONG Expressão Livre, “a crise atual é inédita para um governo democrático”. “Já passamos por situações piores durante ditaduras, mas nunca durante um período supostamente democrático”, disse ao Globo. “Temos um blecaute informativo. As pessoas ficam sabendo do que acontece pela CNN e em redes sociais porque os meios locais não informam.”

Em um extenso capítulo dedicado à Venezuela em seu relatório semestral, após três dias de encontro no Panamá, a SIP afirmou ainda que “restam poucos meios independentes, que têm dificuldade de sobreviver em meio à deterioração institucional, social e econômica”.

Segundo o informe, há censura prévia – tanto por meios legais como a autocensura dos novos donos alinhados ao governo – e apropriação do horário nobre no rádio e na TV, gerando “um blecaute de informação” e perseguição de jornalistas.

Já na visão do secretário-geral adjunto do CNP e jornalista do El Nacional Hernán Lugo a situação dos meios de comunicação é “ainda mais grave do que indicou a SIP em seu relatório”. “Os meios oficiais fazem propaganda, não informam. E nos privados existe muita autocensura”, lamentou. “A falta de informação é dramática. Quando morreu o garoto de 14 anos em San Cristóbal, muitos só ficaram sabendo à noite, quando tiveram acesso às redes sociais.”

Para o professor Marcelino Bisbal, da Universidade Católica Andrés Bello, nunca existiu na Venezuela um governo com uma estrutura de mídia tão poderosa. Segundo dados recolhidos por sua equipe, o governo destinará este ano US$ 550 milhões a meios de comunicação alinhados às políticas da revolução bolivariana. “Neste sentido, Maduro é mais eficiente do que Chávez, porque o governo não aparece como comprador de meios e censor.”

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Janaína Figueiredo é correspondente do Globo em Buenos Aires