Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Para manipular emoções

Uma máquina pode mudar o que você sente? E, veja bem, não estou falando de vídeos de filhotes na internet. Uma empresa iniciante de Boston, nos Estados Unidos, acha que consegue. Segundo reportagem da Technology Review, a Thync criou um dispositivo com eletrodos que produzem pulsos de eletricidade, para serem ligados à cabeça das pessoas. Por meio de um aplicativo no celular, é possível escolher programas de 5 a 20 minutos, que servem, por exemplo, para acalmar quem está agitado ou para dar energia para quem precisa.

Os repórteres da Technology Review testaram o aparelho e chegaram à conclusão de que ele não funciona com todo mundo, o que poderia indicar um efeito placebo (quem está sugestionado mudaria de humor sem que isso fosse resultado do aparelho). A programação para dar energia, segundo a Thync, teria o mesmo resultado de ingerir uma bebida energética. O produto ainda não está no mercado, seu preço não foi divulgado e sua eficácia precisa ser provada cientificamente.

Mas há formas mais sutis de se manipular emoções eletronicamente, sem dispositivos ou choques elétricos. No ano passado, causou polêmica um estudo divulgado pelo Facebook, em que 689 mil usuários participaram, sem saber, de um teste sobre “contágio emocional”. A rede social reduziu a exposição de um grupo a publicações “emocionalmente positivas” em seu feed de notícias, e isso fez com que esse grupo publicasse menos conteúdo positivo. O mesmo ocorreu com outro grupo menos exposto a publicações negativas, e passou a compartilhar menos conteúdo “emocionalmente negativo”.

Rastros online

Apesar de criticado, o experimento provou que a manipulação emocional funciona. Com o crescimento da internet das coisas (em que os mais diversos objetos passam a estar conectados) e do big data (em que sistemas conseguem cruzar um volume considerável de informações e analisá-lo), a situação se torna ainda mais complicada.

Um aplicativo de trânsito como o Waze armazena informações sobre os locais que cada um visita, em que horário e com que frequência. Além dos sensores de localização, um relógio inteligente como o Apple Watch vem equipado com um monitor cardíaco. As cidades estão cheias de câmeras, que podem abastecer sistemas de reconhecimento de face. Em lugares fechados, a triangulação de Wi-Fi permite identificar nossos celulares mesmo sem conectá-los a alguma rede.

Imagine essas informações combinadas aos rastros que deixamos online, como os links em que clicamos, as palavras que buscamos, as publicações que curtimos, os e-mails e as mensagens que trocamos e as compras que fazemos. Sem regulação adequada, tudo isso pode ser usado para nos convencer a comprar coisas, ou até a tomar decisões mais importantes.

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Renato Cruz é colunista do Estado de S.Paulo