Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As formadoras da opinião que nos rodeia

Estou atualmente morando na Colômbia, após ser aprovada em um intercâmbio proposto pela minha universidade de origem. Mesmo morando longe de casa e depois de viajar por mais de trinta e duas horas (de Teresina, PI, até Montería, Colômbia), minha vida ainda é “bombardeada” pelas notícias que regem os meios de comunicação do meu estado (Piauí) e do meu país. Simples de entender: a internet me possibilita acompanhar tudo, absolutamente tudo, o que é notícia no Piauí e no Brasil. Um exemplo prático: a recente quase “suspensão” do Whatsapp em todo território nacional, após determinação de um juiz de Teresina (PI), até o cumprimento de uma ordem judicial em caráter de urgência.

Com a internet, e principalmente com o acesso às redes sociais, que acompanho pelo menos duas ou três vezes ao dia, é possível estar “informada” de tudo o que é notícia e de tudo o que influencia e gera opinião entre os meus conterrâneos. Com isso, também fui “bombardeada” com todos os comentários feitos ao beijo entre as atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timberg no primeiro capítulo da novela Babilônia, exibido na noite da última segunda-feira (16/3), onde as duas vivem um casal de lésbicas na trama.

A cena foi exibida mais ou menos às 21h no Brasil (horário de Brasília) e instantaneamente minha timeline se encheu de imagens, memes, comentários e opiniões acerca do grande passo ou retrocesso da televisão brasileira. Eu não assisti à cena, que não é transmitida na Colômbia, mas nem precisava ver, porque tive acesso à cena de todos os ângulos possíveis e imagináveis.

Pautas que devem virar notícia ou não

O que quero aqui retratar não é a cena, que para mim é apenas “mais uma cena” de uma novela produzida pelo Rede Globo de Televisão. Não pretendo entrar no mérito dessa discussão. Quero registrar o quanto as pessoas conseguiram, em pouquíssimo tempo – é bom lembrar – emitir as mais diversas opiniões e, principalmente, as muitas críticas ao beijo interpretado por duas maravilhosas atrizes. Vale ressaltar que o Twitter liderou os comentários e a hashtag #Babiloniaestreia esteve entre as mais comentadas do dia e certamente estará por um longo tempo.

Segundo Habermas, o espaço público se caracterizava pelo “reinado da crítica” na era iluminista e foi substituído pelo “reinado da opinião (Cfr. Jean-Marc Ferry, op. cit. , pp. 20 e segs.), motivado e cadenciado pelas diversas formas media, encabeçadas pela sui generis televisão. “A televisão é clara e potencialmente parte da esfera pública” (Nicholas Abercombrie, Television and Society, Polity Press, Cambridge, Oxford, Malden, 1999, p. 207). Que a televisão faz parte da esfera pública, disso nunca duvidei desde que me entendo por gente. O centro da questão para mim não está nessa afirmativa, mas no fato de que, pelo que vi e li, acredito que estamos vivendo atualmente uma era que mistura os dois reinados, sustentados na grande maioria das vezes pelas nossas queridas redes sociais, que são diariamente, minuto após minuto, influenciadas pela televisão.

Vivo no “reinado da crítica”, a partir do momento que uso da minha “liberdade de expressão”, que critico ofensivamente tudo que vai contra meus princípios e valores pessoais. Não levamos em conta a ética, o que interessa é dar minha opinião sobre o que me cerca, o que conheço e principalmente sobre o que me incomoda, e a partir das críticas e logo depois delas, adentro o “reinado da opinião”. Quero, preciso e acredito fielmente que necessito dar minha opinião sobre todos os assuntos que estão na “moda”.

Penso que só isso justificaria o fato de uma cena que foi transmitida, via televisão, pautar, se não todos, quase todos os meios de comunicação. A agenda setting explica bem como é feita a seleção diária das pautas que deverão virar notícia ou não. O que vale ressaltar aqui é que esse mecanismo não apenas realiza essa seleção noticiosa como também condiciona o espaço público e a formação da opinião pública, afinal, Deus me livre de ficar de fora daquilo que meus “amigos” estão comentando arduamente em suas redes sociais, correto?!

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Amanda Noleto é estudante de Jornalismo