Em 2012, circulou a ideia de uma intervenção na Síria. O argumento desidratou-se logo, levando ao consenso oposto: não há vitória possível contra o Estado Islâmico sem a cooperação de Damasco. O Brasil acertou, opondo-se à ideia da intervenção desde o início.
No entanto, ao explicar os porquês da decisão, o Itamaraty não coordenou a mensagem entre seus embaixadores. Uns apresentaram arrazoados plausíveis a seus interlocutores. Outros não.
Numa capital europeia, um deles disse: “O que há de errado com Assad? Nada.” Quem ouviu concluiu que a diplomacia brasileira pouco se importa com os mortos do regime Assad.
Problemas de comunicação como esse acontecem com frequência. Mesmo quando o Brasil tem motivos defensáveis, muitas vezes sua maneira de apresentar as próprias prioridades e intenções deixa a desejar. O motivo disso é a ausência de uma política de comunicação social. Faltam mecanismos para produzir uma mensagem coerente capaz de resistir bem a críticas dentro e fora das fronteiras e, além disso, mobilizar toda a rede diplomática com eficácia.
Existe agora uma oportunidade para reverter essa situação. Afinal, as redes sociais estão transformando a maneira como se conduz a diplomacia.
Do uso do WhatsApp para coordenar a resposta ao ebola à campanha no Twitter para eleger Roberto Azevêdo para a OMC, as redes viraram instrumento valioso de política externa. No Twitter, a conta @ItamaratyGovBr já conta com mais de 100 mil seguidores.
Ginástica na cela
Os consulados brasileiros com presença ativa no Facebook vêm tendo enormes ganhos de eficiência, atendendo melhor a milhares de brasileiros todo dia. Só que esse progresso ainda não se traduziu numa política institucionalizada com força suficiente para disciplinar a tropa, mobilizar recursos humanos e integrar a comunicação do Estado brasileiro no exterior.
Muitas postagens do Itamaraty nas redes sociais ainda são escritas em burocratês. Testa-se a paciência do internauta com fotos do encontro do chanceler brasileiro com a ministra de Educação da Irlanda.
O uso do YouTube, promissor, está muito aquém do que demanda uma sociedade como a nossa, que vive online. A presença de diplomatas nas redes traz riscos, claro.
A embaixada britânica nos EUA foi obrigada a se desculpar depois de celebrar num tuíte o dia que as forças da coroa puseram fogo na Casa Branca. Numa visita à China, Cristina Kirchner postou comentário grosseiro sobre o sotaque chinês quando tentava uma piada.
Nada disso deveria impedir a diplomacia brasileira de se adaptar à nova realidade. O ministro Mauro Vieira ganharia ao abrir uma conta no Twitter e usá-la.
Num momento de relativo declínio de nossa presença internacional, não há espaço para grandes lances. Mas dá para fazer ginástica na cela.
Uns vão reclamar. Para eles, a lembrança de Lord Palmerston. Em 1840, ao ver um telégrafo pela primeira vez, exclamou: “Meu Deus! Isto é o fim da diplomacia!”
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Matias Spektor é colunista da Folha de S.Paulo