Quem compra a versão impressa de um jornal? Apenas algumas pessoas que se opõem às mudanças tecnológicas e que não reconheceriam um smartphone se sua charrete esmagasse um nos paralelepípedos da rua? Alguns octogenários e seus irmãos mais velhos?
Parece ser essa a sabedoria popular. No Twitter, Chris Boutet escreveu recentemente uma coisa divertida. “A lista das pessoas que ainda assinam jornais é a seguinte: jornalistas e seus pais.” Isso me lembrou uma piada sobre o clima em minha querida cidade. “Existem duas estações em Buffalo: o 4 de julho [dia da independência dos Estados Unidos] e o resto”. Não é exatamente correto, é claro – de maio a novembro o clima é ótimo – mas também não o é a piada de Chris Boutet.
Ninguém duvida que a trajetória do impresso esteja caindo. Mas onde estamos, exatamente, nesse percurso? E como se encaixa a geração mais jovem nesse quadro? Achei que valeria a pena descobrir uma resposta, já que o assunto pode afetar o Times e seus leitores. E algumas respostas são surpreendentes.
Antes de mais nada, entretanto, gostaria de deixar uma coisa bem clara. Embora esta coluna seja sobre o jornal impresso, acredito veementemente na necessidade de seguir em frente com a versão digital, com um sentido de urgência, que é o que o Times vem fazendo.
Idade média do assinante digital é de 54 anos
Leio o Times de várias maneiras diariamente – primeiro através do que chega pelas redes sociais, depois no website e depois a versão impressa, em minha mesa; mais tarde volto às duas primeiras opções. Provavelmente leio mais notícias, de todos os tipos, por telefone do que em qualquer outro lugar.
Mas antes que alguém diga “E daí?” em relação ao jornal impresso, há motivos para uma pausa. Alguns aperitivos:
** Mais de 70% do total da receita do Times em 2014 veio do jornal impresso. A maior parcela desse número é da “receita de consumidor” da edição impressa – isso vem quase exclusivamente de pessoas que têm uma assinatura do jornal entregue a domicílio ou o compram na banca de jornais. Mas a receita publicitária também é muito importante.
** Mais de um milhão de pessoas ainda compram o jornal aos domingos. Esse número caiu de um máximo de 1,8 milhão, em 1993, para 1,1 milhão. E cerca de 645 mil pessoas ainda pagam pelo jornal diário, o que foi a maior queda (os números do jornal diário caíram 6% no ano passado, enquanto as vendas do jornal de domingo caíram cerca de 3,5%).
** Muitas pessoas jovens compram e leem a versão impressa. Entre o total de assinantes, 23% têm 20, 30 ou 40 anos – o que representa centenas de milhares semanalmente. É impossível que todos eles sejam jornalistas.
** Do outro lado do espectro, o assinante típico da versão digital do Times não é, definitivamente, da geração do milênio, com seu “pau de selfie” a caminho de um festival de música na Califórnia. Não, a idade média do assinante digital é de uma pessoa grisalha (mas que, sem dúvida, pratica ginástica), de 54 anos, não muito mais nova que o assinante médio da versão impressa, que é de 60 anos.
Os leitores que adoram o impresso
Além disso, essa significativa multidão – de jovens e idosos – tem paixão pelo Times. Roland Caputo, executivo do Times responsável pela edição impressa (“É importante que alguém se encarregue da parte menos sexy da operação”), descreve essa paixão dos leitores em termos simples. “Os leitores da versão impressa adoram o impresso”, disse-me ele. “Têm uma afinidade astronômica com ele.” Um importante projeto de pesquisa feito pelo jornal no verão passado deixou isso claro. “Esse é um sentimento que não vai mudar”, disse Caputo, “e temos leitores do impresso de todas as idades.”
Considerando que esses leitores do jornal impresso são quem paga a maior parte das despesas, com seus hábitos de compra e as assinaturas caras (algumas pessoas pagam mais de 800 dólares por ano por uma assinatura dos sete dias da semana), o Times quer mantê-los satisfeitos. Isso se dá de várias maneiras – desde garantir que o jornal mantenha o mesmo padrão de excelência jornalística até a entrega do jornal no horário previsto. A estratégia é manter os leitores do impresso satisfeitos e envolvidos porque depois que eles se forem, será difícil substitui-los. Encontrar uma porção de novos assinantes de um jornal impresso é uma tarefa que nem Sísifo deseja.
Outra coisa: os leitores do impresso estão entre as pessoas mais envolvidas com as ofertas da versão digital do Times; não se trata de duas categorias de leitores separadas.
No entanto, não há como escapar à grande questão: quanto tempo ainda irá durar a versão impressa? Num encontro realizado na semana passada na Universidade de Loyola, em Nova Orleans, o editor-executivo Dean Baquet disse que tem “um romance com o impresso do jeito que todo mundo tem”. Mas também reconheceu, segundo reportagem do Times-Picayune, que “ninguém acha que haverá muitos jornais impressos dentro de 40 anos”.
Roland Caputo dispõe-se a fazer uma previsão num prazo mais curto. “Haverá uma edição impressa do New York Times num futuro previsível”, disse. Num prazo de dez anos? “Com certeza.”
Decisões difíceis rumo ao futuro digital
Para quem gosta de ver e sentir o jornal impresso – a força de uma foto dramática de primeira página, a viagem fortuita pelas páginas do jornal de domingo, a admiração pela opinião dos editores – isso é uma boa notícia.
O Times faz o que deveria ser feito ao dispender uma energia considerável para atrair leitores que usam os novos dispositivos móveis, ao lançar a presença no Instagram e expandir seu jornalismo interativo. Vem trabalhando para criar um novo modelo de negócios que seja viável no longo prazo.
E tenta manter os custos sob controle, o que significou cortar alguns postos na redação e, consequentemente, eliminar algumas seções antigas, como Automóveis e Residências. Já recebi muitas queixas de leitores que não gostaram de decisões específicas.
É uma decisão difícil e, de uma maneira geral, vem sendo tomada após uma longa reflexão. O Times vem atravessando a ponte rumo a um futuro inteiramente digital, mas é importante lembrar que os leitores apaixonados do impresso de hoje têm maior diversidade e são mais numerosos e mais valiosos do que poderia sugerir a sabedoria convencional.
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Margaret Sullivan é ombudsman do New York Times