A Associação Mundial de Jornais realizou, esta semana, a conferência ‘Mídia em Perigo – Imprensa Sitiada’ em Beirute, no Líbano. Mais de três mil pessoas compareceram à abertura do evento, que tem como objetivo debater maneiras de apoiar o desenvolvimento de uma imprensa independente e profissional no Oriente Médio.
A cerimônia de abertura foi dedicada à memória do jornalista e político libanês Gibran Tueni, morto em dezembro de 2005. Também foi apresentada ao público a primeira vencedora do Prêmio Gibran Tueni – a jornalista do Iêmen Nadia al-Saqqaf. Editora do jornal Yemen Times, Nadia, de 29 anos, foi escolhida por seu compromisso com os valores definidos pela Associação como os seguidos por Tueni: lealdade à liberdade de imprensa, coragem, liderança, ambição e altos padrões de gerenciamento e jornalismo.
Nadia é a primeira mulher a ocupar um cargo de editor em seu país. Com o prêmio, ela recebe uma bolsa de estudos para treinamento de liderança em jornais no valor de 10 mil euros. ‘Isto serve como reconhecimento aos jornalistas iemenitas em geral e, especialmente, às mulheres iemenitas que trabalham na mídia. Isso deveria encorajá-los a crescer e a não desistir’, afirmou a jornalista. ‘Sinto-me honrada após apenas dois anos como editora-chefe’.
Violência e impunidade
Tueni era chefe de redação e colunista do jornal An-Nahar, membro da Associação Mundial de Jornais e membro do Parlamento. No dia em que foi morto, acabava de retornar a Beirute após um período em Paris, onde havia permanecido por temer por sua segurança. Além dele, também foram lembrados na conferência os jornalistas libaneses Samir Kassir e May Chidiac. Kassir, colunista de destaque do An-Nahar, foi morto em frente à sua casa em ataque a bomba em junho de 2005, seis meses antes do atentado contra Tueni. A apresentadora de TV May Chidiac foi atacada em setembro daquele ano, quando uma bomba foi colocada embaixo do banco de seu carro. Ela perdeu um braço e uma perna. Os três eram extremamente críticos ao papel da Síria no Líbano. Seus assassinos continuam impunes.
Os casos dos jornalistas foram usados para ilustrar uma tendência temida por profissionais de imprensa no Oriente Médio. ‘Este foi um ano sangrento para jornalistas, o pior registrado’, afirmou Timothy Balding, executivo da Associação. ‘Pelo menos 44 profissionais de mídia foram assassinados no Iraque em 2006, a maioria executada a sangue frio, e mais de cem foram mortos nos últimos 12 meses no mundo’.
Entre os palestrantes do evento estavam a filha de Tueni, Nayla, e o primeiro-ministro libanês, Fouad Seniora. ‘A imprensa, em nossa história contemporânea, tem sido o maior poder em direção à liberdade – não apenas no Líbano, mas em todo o Mundo Árabe’, afirmou Seniora através de um link de vídeo do palácio do governo, onde está cercado por aliados do Hezbollah que querem derrubar seu governo. ‘A imprensa não defende apenas suas próprias liberdades. Seu maior desafio é defender as liberdades públicas, especialmente a liberdade política: o direito de se estar na oposição, o direito de se expressar’, completou. Informações da Associação Mundial de Jornais [10/12/06] e do Comitê para a Proteção dos Jornalistas [11/12/06].