“Câmera, close! Microfone, please! Vou dar a vocês agora um tostão da minha voz.” O galanteio brasileiro nunca mais será o mesmo. O ator e comediante Jorge Loredo, criador do conquistador Zé Bonitinho, morreu na manhã desta quinta (26), aos 89, em decorrência de falência múltipla de órgãos.
Loredo estava hospitalizado desde fevereiro no Hospital São Lucas, no Rio. Segundo o hospital, ele lutava há anos contra uma doença pulmonar crônica e um enfisema.
O corpo do ator será velado a partir das 8h desta sexta (27) no Memorial do Carmo, Cemitério do Caju, no Rio. A cremação será às 15h.
Zé Bonitinho passou sua última cantada em março de 2012, no programa “A Praça É Nossa” (SBT), no qual atuava desde 2001. Loredo teve que interromper a carreira por conta da saúde frágil.
O humorista nasceu em 7 de maio de 1925, em Campo Grande, no Rio. O início de sua vida foi mais um filme de horror do que uma comédia.
Aos 12 anos, com osteomielite, doença infecciosa que provoca inflamação nos ossos –no caso, o fêmur–, sentia fortes dores e só conseguia se locomover com dificuldade.
“Vivi bastante isolado. Era um garoto que não se relacionava com ninguém. Meu único amigo era cego. Eu perneta, ele cego!”, relatou o ator no livro de memórias “O Perigote do Brasil”, escrito por Cláudio Fragata e publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo em 2009.
Aos 20 anos, contraiu tuberculose. Passou um ano em um sanatório para se tratar.
Ao receber alta, enfim a sorte começou a lhe sorrir. Um teste vocacional deu-lhe três conselhos: o magistério, a diplomacia ou “atividades exibicionistas”. Entrou para a faculdade de direito (formou-se em 1957) e para o teatro.
“Eu não sabia que eu era humorista. A coisa foi surgindo naturalmente”, contou em entrevista ao SBT em 2010. Em 1958, ganhou fama ao viver um mendigo filósofo no programa “A Praça da Alegria”, na TV Rio. Mas o grande marco de sua carreira veio dois anos depois, quando Zé Bonitinho estreou no “Noites Cariocas”, dirigido por Chico Anysio na mesma emissora.
O sujeito de topete, delgado bigodinho, gravata borboleta e pente gigantes e terno extravagante, caricatura do típico cafajeste, tornou-se um clássico do humor popular brasileiro. A inspiração veio de um amigo de juventude, Jarbas, metido a garanhão.
Zé Bonitinho foi também um símbolo para a contracultura dos anos 1960 e 1970. Atuou em dois filmes do Rogério Sganzerla, “Sem Essa, Aranha” (1970) e “O Abismo” (1978). No primeiro, deu vida ao capitalista Aranha, tipo decalcado do Bonitinho, retrato mordaz da boçalidade do país.
“Ele é um gênio. O trabalho que ele fez nos filmes de Rogério foram consagrados internacionalmente. Adorei trabalhar com ele”, diz a atriz Helena Ignez, viúva de Sganzerla.
A última atuação no cinema foi no filme “O Palhaço”, de Selton Mello, em 2011. “Loredo foi um grande artista. Quando o conheci, fiquei fascinado pelo homem culto, amante dos filmes italianos clássicos”, diz Selton em nota. Diferente de seu espalhafatoso personagem, Loredo, era bastante discreto. Dizia nunca ter sido mulherengo. Casou-se três vezes e teve dois filhos.
“O artista só pode representar aquilo que não é. Se tivesse algo do Zé, não faria o personagem”, afirmou em 2010.
Os bordões famosos do conquistador
“Zé Bonitinho, o perigote das mulheres, o homem mais lindo do mundo”
“Câmera, close! Microfone, please! Vou dar a vocês agora um tostão da minha voz!”
“O chato não é ser bonito, o chato é ser gostoso”
“Zé Bonitinho, aquele que não é caminhão de gás, mas a mulherada tá sempre correndo atrás”
“Zé Bonitinho, aquele que não é corda, mas amarra a mulherada”
“Mulher para mim é igual parafuso: é no arrocho”