O que faz um genial lorde inglês quando, por um acaso do destino, nasce no subúrbio do Rio e, doente desde cedo, tem de conviver com as maiores limitações? Subverte!
Esse gênio –Jorge Loredo– passou por inúmeras cirurgias para se curar de uma osteomielite, depois ficou meses num sanatório para tratar uma tuberculose. Nesse tempo, estudou arte, mais precisamente a comédia italiana.
E então nasceu a sua grande subversão: o personagem Zé Bonitinho. Homem de aparência frágil, mas que como um super-herói conquistava todas as mulheres do “Brasil varonil”. Ele forjou beleza e sedução, e todos caímos na dele. Como um mágico, manteve seu charme e altivez até as últimas performances. E foram 50 anos arrasando corações, nos palcos e na vida
Conheci Jorge há 13 anos. Estava diante de um genial ator, sofisticado, um exímio advogado e que uma vez por semana ia a São Paulo gravar “A Praça é Nossa”.
Foram três anos acompanhando esse artista, que me contou as melhores histórias que eu poderia sonhar em ouvir. Graças a ele, aprendi a amar a arte, me tornei uma diretora e também uma das suas “conquistas”. Nunca consegui me desgrudar dele.
Jorge Loredo, aos 89 anos, tinha muitos projetos: queria escrever livros, lançar seus quadrinhos e dirigir filmes. Era um sonhador que nunca perdeu o encanto pelo ofício, embora se sentisse injustiçado nesse mercado.
Em “Câmera, Close!” (2005), documentário que dirigi sobre ele, fiz questão de levá-lo ao Teatro Municipal de Niterói para encenar um número que ensaiava há anos. Foi uma mímica fabulosa, que nunca teve a chance de mostrar.
É a cena final do filme. Era daquela maneira que ele se sentia: um elegante provocador de gargalhadas.
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Susanna Lira, 40 anos, é cineasta, diretora do documentário “Câmera, Close!” (2005), sobre Jorge Loredo