Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O futuro da TV

As lojas de eletrônicos gostam de expor, na entrada, televisores com tecnologia 4K. São os modelos mais caros e a qualidade da imagem é muito melhor do que os modelos de alta definição (HD, na sigla em inglês), a que estamos acostumados. O problema é que os canais oferecidos no Brasil não estão em 4K (também chamado de Ultra HD).

O 4K tem uma resolução que equivale a quatro vezes a do HD. Ou seja, é formada por quatro vezes mais pontos. Isso faz diferença principalmente em aparelhos de telas maiores. Não existe como aumentar o tamanho das telas sem ampliar a resolução. A imagem começa a ficar pixelada, já que os pontos que a formam passam a ser visíveis. É a mesma coisa que aconteceu, na década passada, quando os primeiros televisores HD chegaram ao mercado brasileiro e ainda não havia transmissão nessa tecnologia. Teve gente que achou que os aparelhos não prestavam, porque a imagem ficava ruim, já que a resolução dela era baixa.

Olímpio Franco, presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), destacou que não existe nenhuma definição sobre transmissões em 4K na TV aberta brasileira. Pior que isso: não há espaço no espectro radioelétrico para que elas aconteçam por aqui. Neste ano, começa o desligamento da TV aberta analógica no País, com o fim das transmissões, no dia 29 de outubro, em Rio Verde (GO), escolhida como cidade-piloto.

Em São Paulo, o desligamento é previsto para o ano que vem. O processo termina, nacionalmente, em 2018. Depois de um ano da desocupação, os canais da TV analógica serão usados pelas operadoras de telecomunicações para ampliar o serviço de celular de quarta geração (4G). E ainda não se sabe como será feita a evolução tecnológica da TV aberta. Para adotar o 4K, cada emissora precisaria receber, como aconteceu na transição para o digital, mais um canal. Dessa forma, haveria transmissão simultânea de dois sinais, já que as TVs HD não conseguem exibir imagens em 4H.

Por aqui, a TV paga fez testes em 4K, como os jogos da Copa que foram transmitidos pela Net nessa tecnologia. O grande impasse está na evolução da TV aberta. Noventa e sete por cento das residências no Brasil possuem televisores, mas menos de 30% têm algum serviço de TV paga. As empresas de TV por assinatura não dependem de política pública para migrar para o 4K, já que é uma questão de adequar a infraestrutura e conseguir conteúdo nesse formato.

O mesmo não pode ser dito da TV aberta, que precisa dos novos canais. Por enquanto, os aparelhos de 4K ainda são artigo de luxo, mas, nos Estados Unidos já existem opções de US$ 500. A tecnologia tem se tornando mais acessível, e onde está a política pública?

Evolução

Enquanto o Brasil não sabe o que fazer com o 4K, o Japão já faz planos para o 8K, que tem uma resolução equivalente a 16 vezes o HD. Eles querem transmissões comerciais de 8K em 2018, como preparação para a Olimpíada de Tóquio, em 2020. A saída encontrada pelos japoneses foi transmitir via satélite. Mesmo assim, a operadora japonesa NHK já demonstrou, com sucesso, a transmissão de sinal de 8K num canal de 6 MHz, igual aos que usamos no Brasil. A tecnologia brasileira de TV digital, chamada ISDB-T, foi criada no Japão.

Disponibilidade

Enquanto os canais de TV não oferecem conteúdo em 4K por aqui, os brasileiros conseguem ver vídeos nesse formato em serviços via internet, como YouTube e Netflix. Séries da Netflix, como Marco Polo e as temporadas mais recentes de House of Cards, foram produzidas em 4K.

******

Renato Cruz é colunista do Estado de S.Paulo