Há um mês, o caso do assassinato do jornalista americano Bradley Will parecia um sonho para qualquer promotor. O repórter foi morto a tiros em 27/10, quando cobria, no estado mexicano de Oaxaca, protestos antigoverno envolvendo ativistas do grupo de esquerda Assembléia Popular do Povo de Oaxaca (APPO) e um grupo de indivíduos armados. Fotos de alguns dos autores dos disparos, com seus nomes, ganharam destaque nas primeiras páginas dos principais jornais do México. As duas balas fatais que acertaram Will foram disparadas por uma pistola 9 mm, o mesmo tipo usado por policiais.
No entanto, no dia 1º de dezembro, o juiz Victoriano Barroso Rojas, alegando falta de provas, libertou dois funcionários públicos suspeitos de terem sido os autores dos disparos – o intendente municipal Abel Santiago Zárate e o chefe de segurança Orlando Manuel Aguilar. A investigação do assassinato de Will – e das mortes de três manifestantes no conflito – pelas autoridades estaduais recebeu tantas críticas que a polícia federal invadiu os escritórios da polícia estadual na semana passada e confiscou todas as armas para determinar se alguma havia sido usada durante a manifestação.
Os manifestantes com os quais Will era solidário afirmam que ele foi assassinado por paramilitares apoiados pelo governo do estado, que já haviam matado dezenas de pessoas desde que o conflito teve início, em maio deste ano. Eles alegam que a morte do jornalista é mais uma prova de que o governo estadual continua repressivo, com os promotores querendo encobrir os crimes cometidos por funcionários públicos, e que a morte de Will foi um ataque orquestrado contra eles, a fim de provocar a polícia federal para intervir no caso.
O assassinato levou o então presidente Vicente Fox, que a princípio evitou se envolver no conflito, a enviar policiais federais para acabar com a manifestação. Promotores estaduais sugeriram que foram os manifestantes que assassinaram Will para atrair atenção para sua causa, e não a polícia.
A procuradora de Oaxaca, Lizbeth Caña, informou que o vídeo que o jornalista gravou pouco antes de ser baleado indica que foi alguém que estava ao seu lado que atirou contra ele, e não homens armados na rua. ‘A pessoa que atirou nele estava de uma distância de não mais que dois metros e meio’, disse ela. ‘Ele estava perto’.
Indignação
A falta de progresso no caso revoltou os pais e amigos de Will. Eles reclamam que Lizbeth está tentando não colocar a culpa nos policiais e nos funcionários públicos. A família do jornalista, assim como organizações de defesa dos direitos humanos, pediu ao governo federal para assumir as investigações. ‘É assustador o que está acontecendo lá. Eles estão manipulando totalmente o caso’, desabafou Kathy Will, mãe do repórter.
Amigos contam que Will teria dito que a mídia ignorou o conflito em Oaxaca, que começou com uma greve de professores em maio e transformou-se em um movimento maior, envolvendo pessoas de esquerda e grupos de índios unidos pelo desejo de ver o governador Ulises Ruiz renunciar. Informações de James C. McKinley Jr. e Colin Moynihan [International Herald Tribune, 10/12/06].