Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vera Guimarães Martins

Há um novo escândalo na praça e, caso se confirme a avaliação dos investigadores, ele desponta com pinta de campeão. Trata-se da Operação Zelotes, que, segundo a Polícia Federal, já provocou prejuízos de ao menos R$ 6 bilhões, podendo chegar a R$ 19 bilhões. Em termos monetários, sua magnitude pode deixar para trás o butim da Lava Jato, que, por sua vez, já havia superado os valores malversados no mensalão. Pois, mesmo com essas promissoras credenciais, o assunto não tem merecido da Folha o mesmo destaque dado aos seus predecessores.

Deflagrada pela Polícia Federal no último dia 26, a Zelotes investiga um esquema de sonegação de impostos incrustado na própria Receita Federal. Aliados a quadrilhas, integrantes do conselho responsável pela avaliação dos recursos de contribuintes multados pelo fisco cobravam suborno para reduzir ou anular multas milionárias. Na lista de casos investigados há bancos, empreiteiras, montadoras e grupos empresariais parrudos, incluindo um de comunicação do sul do país.

Só na última quinta (2), uma semana depois do início, a operação galgou a manchete deste jornal (“Mensagem liga lobista a caso que fraudou Receita”). Um dia após ser deflagrada (27), a Zelotes foi o título principal dos concorrentes, mas mereceu na Folha uma chamada modesta. O tema ficou sumido da capa por três dias e voltou ainda menor na terça (31) e na quarta (1º). O furo mais importante até agora, a lista de grandes empresas investigadas, foi obra da concorrência.

Ainda que movimente enormes somas, um esquema de sonegação fiscal como esse pode não ter o apelo midiático explosivo do escândalo da Lava Jato, que se espraia por partidos e políticos do primeiro escalão da República. É um erro, contudo, menosprezar sua importância. Um dos aspectos mais celebrados do caso Petrobras é que a investigação está atingindo corruptos e corruptores (embora seja difícil saber quem é quem nesse jogo). A punição de quem paga suborno para levar vantagem não é só questão de Justiça, é aspiração de qualquer sociedade que se quer desenvolvida.

Assim falou Levy (de novo)

A manchete de domingo passado (29) –”Dilma é genuína, mas nem sempre efetiva, diz Levy”– despertou a ira de alguns leitores. O título foi tirado de um encontro do ministro da Fazenda com ex-alunos da Universidade de Chicago. A frase inteira: “Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes não da maneira mais fácil… Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno”.

Pode-se começar arguindo que o enunciado não foi exatamente fiel à fala: dizer que Dilma tem “desejo genuíno de acertar as coisas” é diferente de declarar que ela própria é genuína, mas acho essa uma questão menor. Títulos são sujeitos a regras e limites estreitos e, às vezes, na tentativa de encaixar a ideia, toma-se alguma liberdade com o enunciado. No caso, chamar Dilma de genuína não chega a ser problema.

O que leitores (e a ombudsman) contestaram é o mérito de transformar em manchete uma frase dessa. Mais uma, por sinal. Informal, falante e pouco habituado aos holofotes, Levy comete deslizes frequentes, mas sua última tirada nada tinha de novo ou grave, como apontou a leitora Marina Freitas: “Com o país fervendo, não havia nada mais relevante? Qual a novidade na fala do ministro? Não há dúvida de que ele entrou para fazer o ajuste e acha que algumas medidas da presidente não foram efetivas”. Outro leitor, Carlos Dranger, verbalizou um incômodo que também compartilho: “Sinto engulhos quando vejo uma manchete com a expressão ‘diz’. Viramos um jornal de fofocas? É falta de assunto?”.

Com frequência é isso mesmo, falta de material melhor. Sem outra opção de boa cepa, qualquer bobagem dita por figura pública pode ganhar dimensão imerecida nos diários.

É obrigatório acompanhar os passos dos ministros da Fazenda, porque o que falam tem impacto na economia, mas buscar antagonismo em tudo o que diz Levy virou artifício batido. Seria bom levar isso em consideração, para não passar a imagem descrita por outro leitor, Wilson de Souza: “Para mim, parece intriguinha e fofoquinha”.

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Vera Guimarães Martins é ombudsman da Folha de S. Paulo