A educação paulista voltou a ocupar espaço na mídia nacional. No período de 12 a 25 de maio, ganhou destaque a divulgação, feita pela Folha de S.Paulo (19/5), da distribuição, para alunos de 3ª série, de um material paradidático inadequado para a idade dos estudantes.
Os desdobramentos foram amplamente repercutidos por outros veículos (Jornal da Tarde (20 e 21), Correio Braziliense (20); Folha de S.Paulo (22), revista IstoÉ (27) e o caso foi encerrado com a promessa do secretário de Educação de São Paulo de apurar e punir responsáveis, além de investigação do Ministério Público Estadual.
Outro acontecimento que ganhou espaço na imprensa nacional (O Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, em 15 e 16/5) foi a depredação de uma escola estadual por seus alunos depois que a polícia retirou dois estudantes acusados de terem ‘invadido’ a unidade e lá estarem ‘fumando maconha’ (O Estado de S. Paulo) ou ‘passando drogas’ (Folha de S.Paulo).
A cobertura do episódio deixou a desejar. Alguns textos ‘compraram’ a versão oficial sobre um ‘histórico de envolvimento com drogas’ na escola, para justificar o fato de a direção ter chamado a polícia, bem como a ação desta na unidade escolar.
‘Entregues à própria sorte’
O vocabulário utilizado igualou a cobertura da educação ao noticiário policial, e estudantes e escola pública foram criminalizados. Ainda que fumar maconha seja ilícito, existe uma grande diferença entre dois adolescentes supostamente consumindo a droga e a ação do tráfico. Da mesma forma, pular o muro da escola não é recomendável, mas não pode ser comparado a uma ‘invasão’.
Impressionou também a falta de vigor nos questionamentos feitos ao poder público. Se ‘a Secretaria admite’ problemas anteriores da escola com drogas ilícitas, o que ela fez para apoiar a comunidade escolar?
Não convenceu a relação que se tentou estabelecer entre as festas (classificadas de ‘baladas’) organizadas no período noturno e o tal envolvimento com drogas ilícitas. No entanto, destacar a realização das festas foi muito oportuno para demonstrar o quanto as comunidades escolares estão entregues à sua própria sorte. Constatação que também pode ser feita no evento da distribuição da revista em quadrinhos.
Escolas não são prisões
Incrivelmente, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE) diz que não sabia das festas, mesmo tratando-se de um evento que, pela descrição feita, mobiliza a comunidade, assim como não sabe quem comprou os quadrinhos inadequados. A produção de reportagens sobre a responsabilidade e relação estabelecidas entre os órgãos burocráticos e as escolas seria muito bem-vinda. Afinal, qual é o papel de cada uma das instâncias dos sistemas públicos de educação, estaduais e municipais?
No caso da rede estadual paulista, as reportagens poderiam destacar uma aparente contradição. De um lado, a SEE vem sendo acusada de centralizadora e de desrespeitar a autonomia escolar, distribuindo material didático que tenta padronizar conteúdos.
De outro lado, parece haver uma completa omissão ou incapacidade em orientar o funcionamento das escolas, como demonstram os episódios em questão.
Por fim, fica a sugestão para que os profissionais da imprensa atentem para a cobertura do ‘pacote’ que o governo estadual deve lançar em resposta ao que vem sendo chamado de ‘violência’ escolar. As ações já anunciadas, como a instalação de câmeras, parecem seguir a tendência de deslocar os conflitos nas escolas do campo educativo para o da segurança pública. Sempre é bom lembrar que escolas públicas não são prisões.
Jovens e adultos
O governo do Distrito Federal, depois de realizar e divulgar pesquisa sobre os conflitos na escola, ouvindo estudantes e educadores, iniciou processo de formação com os profissionais da rede (Jornal de Brasília, 22/5). O curso, que vai se estender até novembro, foi batizado de Juventude, Diversidade e Convivência Escolar e será ministrado por Bernard Charlot, especialista que deve ser tomado como uma importante fonte de informação pela imprensa.
O tema do analfabetismo e da educação de jovens e adultos marcou a cobertura da mídia nos dias 23 e 25 de maio, em função da divulgação pelo IBGE do documento ‘Aspectos Complementares da Educação de Jovens e Adultos’, baseado nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD de 2007.
No dia 22, mesmo sem o estímulo da pauta oficial, o Valor Econômico abordou o tema, publicando interessante reportagem sobre a ameaça de desemprego que paira sobre estivadores que atuam no litoral paulista em razão da baixa escolaridade. O texto trabalha de maneira exemplar a relação entre a modernização do trabalho nos portos, a insuficiente escolaridade da mão-de-obra disponível e, ao mesmo tempo, as dificuldades para voltar à escola. Vela a pena conferir! Também vale a leitura de artigo escrito por Sérgio Haddad, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES/Presidência da República), para o jornal Brasil de Fato, sobre o desafio da superação do baixo nível de escolaridade média da população brasileira.
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Coordenadora do Observatório da Educação/Ação Educativa