Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jogo dos contentes

Carlos H. Knapp

O Banco do Brasil patrocina há muitos anos equipes e esportistas em competições nacionais e internacionais. Nisso, vai muito além da simples identificação de uniformes para aproveitar sua exposição na mídia. O banco participa ativamente do esporte patrocinado, distribuindo bolsas aos atletas, incentivando a formação de novos atletas e subvencionando torcidas organizadas. Daí os anúncios em que o patrocinador se apresenta um tanto como padrinho da modalidade. Essa presença do Banco do Brasil no esporte é tão mais notável porque os outros patrocinadores são geralmente marcas de equipamento esportivo. Basta o atleta usar o tênis Nike ou a raqueta Wilson para que o marketing se faça.

O patrocínio esportivo do Banco do Brasil pode ser classificado, por isso, como institucional. Ele procura capitalizar o amor da torcida pelo clube ou pelo país. A estratégia deve ter se provado compensadora e, sem dúvida, as verbas aplicadas no vôlei, no tênis e nos outros esportes contemplados resultam em benefício. Mas o uso publicitário excessivo que o banco faz dos atletas patrocinados pode comunicar a idéia negativa de uma exploração. E até que ponto os anúncios do tipo "Dá-lhe, Guga!" não contribuem para aumentar a pressão sobre esse solitário herói nacional?

Quando, há semanas, a equipe australiana ganhou da brasileira nas semifinais da Taça Davis, o Banco do Brasil publicou um anúncio ilustrado com cangurus e dizendo:

Já é duro pegar a Austrália na grama. Imagine um bando deles.

Brilhante. Mas, de fato, o banco estava praticando o jogo do contente e se desculpando pela perda do torneio. Isto me faz lembrar a explicação que antigamente se dava para as derrotas do futebol brasileiro lá fora: "O pessoal estranharam o crima e a comida".

O Banco do Brasil já está se confundindo com a torcida.

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