Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Câmera escondida

Artur da Távola

Transcrição da primeira intervenção do jornalista e senador Artur da Távola no programa Observatório na TV, de 29/8/00, comentando a gravação clandestina do depoimento de Antônio Pimenta Neves à polícia, exibido em programas jornalísticos da Rede Globo

"Eu estou dividido em relação a esta matéria pela seguintes razões: eu trabalhei 15 anos diretamente com o Evandro [Carlos de Andrade, diretor de Jornalismo da Rede Globo] que eu considero um dos jornalistas mais éticos deste país. Uma pessoa séria. Isto é um lado da questão. O outro lado se prende a uma obrigação que a TV está se dando de ter, em seus noticiários, pelo menos três rostos em close a chorar por algum motivo e a entrar numa linha de ficção através da realidade – ou seja, colocar tudo que seja efetivamente dramático, violento e agressivo nos noticiários para continuar a linha do hiper-realismo que perpassa toda a programação. É como se nós tivéssemos uma só programação dividida em várias partes, nas quais levar tudo ao extremo, à denúncia e à dramaticidade passasse a ser a regra de um comportamento de televisão.

Isso que é toda uma linguagem que merece análise, com profundidade e discussão, acaba por ser superior a qualquer outra instância. E, neste caso, vai cair em algo que o jornalismo brasileiro tem discutido. Os seus setores mais conseqüentes têm pensado sobre isso, que é a idéia que o jornalismo é a instância última deste país; ele está por cima das regras do Direito, por cima das definições dos poderes; ele é a instância superior capaz de se sobrepor com direito a fazer qualquer cosia sobre o funcionamento normal das questões.

Eu acredito que a razão profunda da decisão daquilo [a exibição da gravação clandestina], se partiu do Evandro ela é ética. Agora, acredito que a metodologia e a arrogância são duas instâncias que o jornalismo brasileiro precisa seriamente pensar. E falo aqui como jornalista."

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