Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A mídia deveria ser um filtro rigoroso das denúncias mas converteu-se em mero reverberador de fofocas. Ganha qualquer parada política quem melhor manipula a repercussão de uma fita

A entrevista-bomba de Pedro Collor que iniciou a derrubada do irmão-presidente, se não foi checada previamente como recomendam os procedimentos mínimos de ética, o foi semanas depois quando apareceu o motorista Eriberto, o mensageiro do jabá.

Agora entramos numa paranóia onde fita converteu-se em sinônimo de verdade. Qualquer coisa gravada que o motoqueiro deixa na portaria de uma redação ganha foros de legitimidade instantânea. É mais importante do que uma pista para investigação.

Esse último conjunto de fitas reproduzindo o encontro do senador ACM, seu braço direito e assessor de imprensa Fernando César Mesquita e três procuradores da República converteu-se numa grande patuscada simplesmente porque a mídia comporta-se como uma barata tonta. E, como não poderia deixar de ser, desnorteia as melhores cabeças da classe política. Compreendidas as oposições.

Não interessa discutir as personalidades de membros do Ministério Público nem o desempenho deste novo poder fiscalizador. Não cabe a este Observatório discutir teores e méritos, muito menos apontar vilões – se ACM, que admitiu a violação de uma votação secreta; se o governo federal, que entregou a presidência do Senado a um político ímprobo.

Interessa-nos examinar o comportamento de uma instituição – a imprensa – que pode ter defeitos mas não pode conformar-se em ser desvairada.

Como muito bem lembrou Márcio Moreira Alves em sua coluna do Globo, fita também significa simulação, fingimento. Acrescente-se que é sinônimo de filme e o cinema, no seu início, era o mundo da fantasia.

O cidadão espera da sua imprensa algo mais do que fitas.