Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Robinson Borges

E-NOTÍCIAS

TV PAGA & TECNOLOGIA

"O segundo nascimento da TV", copyright Valor Econômico, 15/09/00

"Durante as comemorações dos 50 anos da TV brasileira, aproveite para colocar ao lado dos antigos aparelhos em preto-e-branco, dos videotapes da ‘Família Trapo’ e das fotos das garotas-propaganda, a imagem da televisão atual. Em breve, ela cederá lugar para uma nova modalidade: a TV interativa. Seu principal atrativo é ser um aparelho multiuso, que permite, por exemplo, criar uma ‘ilha de edição’ e escolher os ângulos para assistir aos programas, acessar a internet e ver TV simultaneamente, interromper a transmissão de shows e vê-los partir de onde pararam, além de interagir com os comerciais. ‘Em cinco anos, a TV será muito diferente, mais interativa e oferecerá experiências novas’, afirma John Friend, vice-presidente de negócios da CNN.

Por enquanto, a TV interativa está restrita aos ‘early adopters’ (pessoas que usam tecnologias novas) nos países desenvolvidos, mas seu potencial é amplo. Em 2005, o número de residências que utilizará a TV interativa no mundo deve aumentar 540% , passando dos atuais 34,5 milhões (3,1% do total de casas com aparelho) para 220 milhões, segundo a Merril Lynch. A pesquisa aponta que, em cinco anos, a TV interativa dos Estados Unidos terá receita de US$ 25 bilhões ao ano, somente com novas formas de anúncios e com comércio por impulso na TV. Enquanto a receita com a TV interativa cresce, a tendência da publicidade na TV aberta é estagnar.

O conceito de TV interativa é abrangente, o que torna imprecisa sua definição. ‘Se perguntar o que é interatividade, cada um tem uma idéia’, diz Virgílio Amaral, diretor de tecnologia da TVA. Hoje, o mercado oferece duas possibilidades de acesso: os ‘set-top-boxes’ (dispositivos que convergem para a TV serviços, como internet ou ‘video- on-demand’) ou a TV digital. Apesar de ainda incipiente, a TV digital é considerada potencial ampliadora da interatividade televisiva. O sistema pode oferecer alta definição da imagem ou multiprogramação, o que permite multiplicar por seis a quantidade de canais, totalizando até 150. Todos com recursos interativos.

No Brasil, o serviço deve chegar ao usuário de TV aberta em 2002. Por enquanto, fabricantes e emissoras de TV aguardam a decisão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre o padrão de transmissão a ser adotado, que deve sair em outubro. A Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) já analisou três modelos disponíveis – o americano (ATSC), o europeu (DVB-T) e o japonês (ISDB-T) – e avaliou que o sistema japonês é o melhor.

A troca de sistemas – que deve levar dez anos e exigir investimentos de US$ 90 bilhões, considerando-se o cenário atual de 90 milhões de aparelhos de TV no país – não implica apenas qualidade tecnológica. O maior problema é o receio de se repetir o efeito PAL-M (sistema de transmissão de TV analógica) usado no Brasil, que é incompatível com o americano NTSC. ‘Não dá para ir contra a natureza mercadológica. O PAL-M nos isolou economicamente’, diz José Felix, diretor de engenharia da Net Sul. A adoção do sistema único, pelo menos no Mercosul, pode expandir em 30% a produção nacional de programas e de televisores.

A previsão dos fabricantes de TV digital é que, nos cinco primeiros anos, o mercado movimente R$ 5 bilhões ao ano. As operadoras são mais reticentes. ‘A TV digital não está lançada. Ela existe nos Estados Unidos, Europa e Japão, mas ainda está sendo inserida no mercado. Não há como compreender o mercado de digitalização’, diz Alexandre Annemberg, presidente do Conselho da Associação Brasleira de Telecomunicações por Assinatura (Abta). De fato, nos Estados Unidos, a TV digital ainda não decolou: apenas 10% dos aparelhos foram trocados. Analistas avaliam que o problema não é só o custo dos aparelhos (o preço caiu de US$ 8 mil, há dois anos, para US$ 2.500), mas a falta de programa dirigido. ‘O conteúdo existe em função do mercado e vice-versa’, explica Annemberg. Apesar de refratários, é certo que a TV atual será peça de museu até 2006.

No Brasil, além da chegada da TV digital, outro fator deve alavancar a TV interativa: a convergência das tecnologias nas TVs por assinatura (internet, telefone, televisão e rádio chegando às casas por um único meio) que, por sua vez, deve aquecer ainda mais o mercado de TV paga. ‘A TV digital só trará benefícios para a TV por assinatura. Nos Estados Unidos, ela passa pelo cabo’, diz Moisés Pluciennik, CEO da Globo Cabo. Segundo pesquisas das operadoras americanas, a tendência é que os consumidores de TV digital sejam usuários de TV paga.

Para o diretor de Marketing da DirecTV, Paulo Octávio P. de Almeida, o Brasil poderá ter 4,2 milhões de usuários de TV interativa, em cinco anos, o que equivaleria a 60% dos assinantes de TV por assinatura na época. É justamente a DirecTV – que já é digital – a primeira empresa a introduzir serviço interativo no país via TV. Em dezembro, começam a funcionar canais de home-banking, tempo, jogos infantis e, talvez, e-mail. Até agora os serviços que existem de vídeo e internet são os de banda larga, como Virtua (da Globo Cabo) e o Ajato (da TVA) via PC.

A WebTV, empresa da Microsoft, também vai implantar, em parceria com a Globo Cabo, projeto piloto de TV digital em Sorocaba (SP) ainda este ano. ‘A idéia é aprender como um usuário lida com programa interativo’, explica Renato Cotrim, diretor de Negócios de Internet da Microsoft.

A resposta do usuário à interatividade tem sido o maior problema enfrentado pelas empresas. Apesar das pesquisas indicarem um mercado promissor, ainda existem dúvidas sobre o êxito de sua recepção. ‘As grandes companhias não estão sempre certas’, afirma Todd Giltin, professor de mídia da New York University (NYU). Para ele, a resposta dos telespectadores é duvidosa, pois a maioria chega em casa cansada e liga a TV em busca de distração. ‘As pessoas assistem à TV e não a programas específicos.’

Luís Carlos Boucinhas, diretor-executivo da Globo.com, diz que a experiência adquirida com a Rede Globo em programas que exijam a participação do público indica o contrário. ‘Toda vez que se coloca perguntas no ar, a Globo congestiona as linhas da Embratel. Acredito na interatividade.’

Para Kent Daniel, diretor da Microsoft, o problema da TV interativa é saber o tempo que as pessoas despenderão com a interatividade. ‘É preciso que se criem aplicativos que agreguem valor aos usuários.’ Pesquisa de sua empresa indica que os americanos acessam a TV para o entretenimento e o PC para aspectos profissionais. Para alguns, entretanto, a tendência é que a fronteira entre um televisor e um PC seja derrubada. ‘Vai haver uma convergência de aparelhos. A TV vai incluir o PC e o PC vai incluir a TV. Não haverá um vencedor. São vários’, avalia Dave Wachob, vice-presidente da WorldGate Communications.

Pesquisa da Forrester Research indica que em cinco anos o PC vai perder terreno em termos de acesso para outros meios. Para o vice-presidente da CNN, John Friend, porém, haverá espaço para todos. ‘Não acredito que exista um ‘magic box’, que una tudo ao mesmo tempo. Haverá um grande espaço para a TV tradicional dentro da interativa e as pessoas usarão os PCs no escritório.’ Na opinião de Virgílio Amaral, a TV interativa ainda está em sua fase inicial. O desafio é desenvolver um conteúdo para torná-la um produto indispensável ao dia-a-dia do usuário. ‘Eu me lembro que, há seis anos, ouvia as pessoas dizer que não teriam celulares. Hoje, temos 13 milhões de aparelhos no Brasil’, diz."

"TV paga dará impulso à interatividade", copyright Valor Econômico, 15/09/00

"Não se sabe ao certo o que a caixa preta que vai ganhando forma – a TV interativa – poderá oferecer ao telespectador ‘teleparticipante’ no futuro. De qualquer forma, sabe-se que a TV paga, em suas várias modalidades, terá papel importante nos primeiros diálogos entre o ‘espectador-interagente’ e a ‘nova televisão’. Isso porque a estrutura da TV paga funcionará como plataforma, como via de troca de dados entre canais multimídia de TV e pessoas. Pode ser, e tudo indica que assim será, o fim da participação passiva de quem pára à frente da telinha.

Na prática, para funcionar, a TV interativa precisa, por um lado, de um meio que permita a emissão de imagens e som – como no sistema convencional. Mas, além disso, o mesmo meio deve ser uma via de duas mãos: é necessário que ele também propicie a ‘resposta’ do espectador-interagente por meio de um toque no controle remoto ou no teclado do PC – o que a atual TV não permite. Quanto mais veloz o meio, melhor e esse é justamente o caso da infraestrutura da TV paga – seja ela via cabo, satélite ou microondas. Além disso, a TV paga e a internet (interativa desde o nascimento) convergem a passadas largas a cada dia. Provedores de serviços de internet rápida (a famosa banda larga) já experimentam oferecer pitadas de conteúdo de TV. A mistura disso? Simples internet na TV, novela pelo computador? É disso que não se tem certeza, mas a expectativa é que o conteúdo das TVs se torne passível de escolha e interação.

‘Por sua estrutura, as TVs pagas desempenharão um papel fundamental no desenvolvimento da TV interativa’, julga Alexandre Annenberg, presidente do conselho deliberativo da Associção Brasileiras de Telecomunicações por Assinatura (ABTA), entidade que reúne as empresas que, direta ou indiretamente, prestam serviços no setor. Para Cláudio Santos, da Globo Cabo, a TV paga terá também outro papel importante nesse turbilhão tecnológico e informacional: o de prover programação, o aclamado conteúdo. ‘Por ser a primeira a ser afetada, a TV paga vai desenvolver toda a programação interativa e também forçará a criação de publicidade interativa’, afirma. Operadoras de TV por assinatura e provedoras de conteúdos como Globo Cabo e a TVA já estudam qual será, afinal, o formato de ‘programas’ interativos. É assim que será permitido ao espectador-interagente, no momento em que ele assiste a um programa, ‘navegar’ por um universo ainda não definido de dados a partir de um simples toque no controle remoto – como já acontece, ainda que de forma incipiente, nos sistemas de TV paga por satélite Sky e DirectTV.

Mas Annenberg alerta: as mudanças podem ocorrer à velocidade do mundo digital, mas que ninguém imagine que o Brasil (e, de resto, também o mundo) implantará o novo sistema com a agilidade dos bits. Por um lado, o aparelho de TV digital, outro braço da TV interativa, deverá demorar a invadir o país; por outro a TV paga ainda enfrenta o desafio de intensificar sua disseminação pelo território brasileiro.

O setor de TV paga deverá fechar este ano com apenas 3,3 milhões de assinantes – nos Estados Unidos, a penetração (número de assinantes em relação ao de lares com TV) é de cerca de 70%. É um número tímido, se comparado ao potencial do mercado: por exemplo, ainda há cerca de 5,6 milhões de domicílios brasileiros de classes A e B que não assinam qualquer serviço, de acordo com pesquisa da PTS-PAY-TV. Vale lembrar também que cerca de 96% dos lares por aqui possuem ao menos um aparelho de TV.

Apesar disso, os empreendedores da ABTA e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel, entidade criada pelo governo federal para regulamentar e fiscalizar o setor) acreditam que o momento é de salto. A ABTA estima que, em cinco anos, o número de assinantes poderá chegar a 6,4 milhões – um cenário considerado conservador. Já a Anatel prevê que o Brasil chegará a 2005 com algo como 16 milhões de assinantes.

O problema a equacionar para levar a TV paga – e, em seguida, a interativa – à casa de mais brasileiros é uma questão de escala. Segundo a Anatel, 404 municípios brasileiros ou já têm condições, ou estão na iminência de serem atendidos por alguma operadora de TV paga. Isso significa possibilidade de acesso a canais por assinatura a pouco mais de 83 milhões de pessoas em cerca de 20 milhões de residências. No entanto, a TV paga ainda é cara para os padrões brasileiros porque tem poucos assinantes; tem poucos assinantes porque é cara etc. Segundo estimativas da PTS-PAY-TV, a adesão da classe C (cuja renda familiar mensal não ultrapassa R$ 900) não deverá passar de 8% nos próximos anos.

Para derrubar o obstáculo, operadoras planejam pacotes populares para levar às classes menos endinheiradas uma opção além da grade das emissoras de TV aberta. A partir de 1º de janeiro de 2002, outra novidade deverá também aquecer toda a área de comunicações: a desregulamentação do setor. A partir da data, desde que autorizadas pela Anatel, operadoras de TV a cabo poderão oferecer serviços telefônicos, companhias telefônicas poderão ofertar canais de TV por assinatura etc. A expectativa do mercado é que, com o acirramento da disputa, cresça a oferta e caiam os preços."

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